São Paulo, quarta-feira, 31 de dezembro de 1997 |
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Pessoas temem as doações
RITA NAZARETH
Cansadas e sem comer um dia inteiro, as pessoas também estavam indignadas e bastante confusas. "Logo que cheguei, um funcionário disse que o fim do prazo não era hoje", afirma a caixa Maria Borges, 21. "Mesmo assim, é melhor não acreditar." "Quem é que vai garantir que não vão tirar meus órgãos se eu sofrer um acidente na rua?", pergunta a enfermeira Maria José Reju, 46, que ficou sete horas na fila do Instituto de Identificação da Polícia Civil de São Paulo para tirar seu RG ontem. "Não tomei o remédio para pressão e nem consegui almoçar para não perder a fila." Maria José veio de Guarulhos e foi ao instituto ontem com a amiga Cleide Silva, 61, aposentada. Cleide conta que iria viajar anteontem, mas que adiou a viagem para Santos para hoje. "Imagine só como vai estar congestionada a estrada", exclama a aposentada. Já a dona-de-casa Gilsinete Pereira da Silva, 34, afirma que deixou três crianças em sua casa no Ipiranga -inclusive uma em fase de amamentação-, para tirar o RG ontem. "Vim para dizer que não sou doadora", afirma Gilsinete. "Eles (os hospitais) jamais vão dar órgãos para gente pobre. O que vai acontecer é que os pobres darão de graça seus órgãos aos ricos." A confusão na divulgação, assustou até crianças. "Tive de trazer minha filha para tirar o RG de não-doadora", diz a professora Maria Martins, 48. "Ela tem dez anos, mas nós não sabíamos que a lei só vale a partir dos 21." Texto Anterior: Oasis pode vir ao país em março Próximo Texto: Rebelião completa 50 horas sem solução Índice |
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