São Paulo, sábado, 1 de fevereiro de 1997
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Estado proíbe policiais de atuar na TV

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Por determinação do secretário de Segurança Pública, José Afonso da Silva, policiais militares estão proibidos de dar "shows" em programas policiais de TV.
O ofício que o secretário encaminhou na última segunda-feira ao comando da Polícia Militar cita diretamente quatro programas: "Rota do Crime", da TV Manchete, "Aqui Agora", do SBT, "Cidade Alerta", da Record, e "190 Urgente", da CNT/Gazeta.
Esses programas acompanham ações da polícia, principalmente na periferia, e costumam levar ao ar imagens de policiais interrogando e revistando suspeitos. Muitas vezes, segundo o secretário, esses suspeitos não querem ser filmados, mas são coagidos pelos policiais a dar entrevistas.
Pela decisão do secretário, os policiais ficam proibidos de dar entrevistas enquanto estiverem participando de qualquer ocorrência.
Também foi vetado aos policiais interrogarem acusados na frente das câmeras.
"Apenas após a conclusão da ação, o policial poderá fornecer todas as informações aos jornalistas, mas sem emitir qualquer opinião ou juízo", afirmou o capitão Nicanor Galan Francês, diretor de comunicação social da PM.
O ofício também veta que a PM planeje ações em conjunto com emissoras de TV. Antes dessa determinação, comandantes de batalhões designavam equipes policiais para trabalhar acompanhadas de repórteres e cinegrafistas.
Além do constrangimento aos acusados, o capitão Francês aponta dois outros motivos para essa medida: "Os jornalistas corriam risco de vida e os carros das emissoras cometiam muitas infrações para acompanhar a polícia". Mas, segundo Francês, caso equipes de televisão sigam carros da PM ou flagrem operações policiais, podem filmar livremente.
Há cerca de seis meses, o secretário já havia proibido que câmeras de TV fossem colocadas em carros da polícia e que policiais narrassem as operações, o que acontecia com frequência. No ofício, o secretário reitera essa proibição.
Constrangimento
O secretário tomou a decisão após receber um ofício da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), manifestando "desapontamento com o desvio da finalidade funcional da polícia".
Na opinião de Jairo Fonseca, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, essas relações entre policiais e jornalistas "violam o direito à imagem, constrangem ilegalmente e injuriam os cidadãos, muitas vezes inocentes".
"A OAB é a favor da total liberdade de imprensa, mas a atuação desses programas policiais é promíscua e precisa ser combatida", disse Fonseca.

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