São Paulo, sábado, 1 de fevereiro de 1997 |
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Operário da canção, compositor Babyface é filho da Motown dos 90
JOÃO MARCELLO BÔSCOLI
São mais de 100 milhões de cópias vendidas e, acredite ou não, cem hits em menos de uma década. Números como esses e 12 indicações simultâneas ao Grammy 97 tiraram-no da esfera de hitmaker bem sucedido para transformá-lo em algo maior: uma lenda negra viva. Circuito oval Kenny "Babyface" Edmonds nasceu há 38 anos na cidade do circuito oval Indianápolis, estado de Indiana, terra dos Jacksons. Quando ainda era menino, seu pai comprou uma pequena frota de táxis, nos quais, todo fim de dia, ele e seus cinco irmãos iam procurar dinheiro perdido nos bancos traseiros. O objetivo era juntar o suficiente para comprar em 69 seu primeiro vinil, "Diana Ross Presents Jacksons Five", gravação que acabou introduzindo em Babyface sua primeira e determinante influência, a gravadora Motown (gravadora negra de Detroit, de onde surgiram Marvin Gaye, Stevie Wonder, Jackson 5, Diana Ross, Lionel Richie e Four Tops, entre outros). Estava tudo lá: os refrões, o elenco, a batida pulsante, a sede patológica pelas paradas. Era o início da revolução que Michael Jackson concretizaria nos anos 80 com "Thriller" e Babyface desfrutaria na década seguinte; a transformação do rhythm'n'blues em música popular americana contemporânea, traduzindo a supremacia musical negra em números, vendas astronômicas e poder, muito poder. Face trabalha com o que se convencionou chamar no Brasil de "música comercial" ou "popular", segmento em que a competência é medida matematicamente por meio dos boletins de venda e execuções em rádio. Stevie Wonder Nessa selva, ele sobrevive graças a sua imensa capacidade de gerar melodias, a maioria inspiradas em seu guru musical, Stevie Wonder, todas com altíssimo grau de reprodutibilidade: é ouvir e sair cantando. Declarar que Babyface é bem-sucedido por causa dos seus refrões, melodias e "ganchos" (hook, parte da música que gruda, engancha nos ouvidos) -como já vi em várias publicações- é o cúmulo da redundância. Ora, todo compositor de música popular é bem-sucedido ou não por causa de seus ganchos, refrões e melodias. Beverly Hills Nesse ramo, todos sabem que, se houvesse uma maneira de isolar fórmulas de sucesso, teríamos milhões de hitmakers vivendo em Beverly Hills, fato que notoriamente não ocorre. Os efeitos do sucesso são contabilizáveis; já as causas, não. Babyface vive seu ápice, acima de tudo, por ter caído no gosto do povo -patrão de toda indústria do entretenimento. Embora não seja um visionário inovador como Stevie Wonder e Prince, entra para a linha evolutiva do rhythm'n'blues como um operário da canção e herdeiro competente. Afinal, fazer cem hits não é para quem quer, é para quem tem o dom. Jackson & Babyface Face, como um dia fez Madonna, usa os músicos do rei do pop quando precisa de lastro, além de ser seu discípulo vocal. E os fatos não param aí. Os dois têm 38 anos, cinco irmãos homens, são de Indiana e possuem 12 indicações ao Grammy. Jackson levou oito; será que Babyface igualará o recorde? O processo de criação Babyface declarou que só compõe graças ao seu "romance com a melodia". Disse também não precisar de uma musa real; tudo pode derivar de fantasias pessoais. Desenvolve suas canções geralmente sozinho, tendo como ferramentas básicas um piano e uma bateria eletrônica, num processo tão simples e eficaz quanto suas baladas. O primeiro passo é descobrir uma melodia interessante e, a partir daí, desenvolver a harmonia, a batida e, finalmente, a letra -seu calcanhar de Aquiles. Whitney Houston Whitney Houston e Boys II Men criaram sérios problemas para gravar duas delas: "Shoop" e "End of the Road", respectivamente. A primeira vendeu 6 milhões de cópias, e a segunda é o single que mais tempo ficou em primeiro lugar na história do show business. Texto Anterior: Curtis Mayfield festeja sua volta à vida Próximo Texto: Ficha Índice |
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