São Paulo, sábado, 1 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Boa história é contada sem muita inspiração

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pode soar antipático e até antipatriótico, mas não dá para entender por que o vídeo "A Quebradeira" conquistou um prêmio tão importante no festival de Tóquio.
Não que o vídeo de Helo‹sa Périssé e Cristina Leccioli seja ruim ou desinteressante. Mas, numa competição entre quase 2.000 obras, espera-se que os vencedores ofereçam algo mais que contar de maneira correta uma boa história.
O enredo, extraído de um conto de Wanda Fabian, é bastante simples e universal: uma pré-adolescente (Ludmila Dayer), de família empobrecida, desenvolve uma verdadeira fixação pela boneca de uma colega rica (Rafaela Gigante).
Percebendo a fraqueza da colega pobre, a menina rica a explora, tornando-a sua escrava em troca de alguns momentos com a boneca. A menina pobre se submete, até que, alimentada pela frustração e pela inveja, parte para a vingança, que vem de forma diabólica e violenta.
Um dos grandes méritos do filme é conduzir bem a ambiguidade da protagonista, entre a inocência e a perversão -que acaba predominando no final. Outro ponto notável é a atuação da garota Ludmila Dayer, que cresceu em todos os sentidos desde sua aparição em "Carlota Joaquina", como a princesa quando menina.
É principalmente graças à sutileza de suas expressões que o espectador fica suspenso entre a simpatia e o horror pelo personagem.
Ironia
O vídeo foi gravado em Nova Friburgo, entre belas montanhas e luz translúcida. Não há nada a objetar com relação às imagens, a não ser pela sua falta de invenção e originalidade.
Há, aparentemente, uma intenção de ironia com relação a determinadas imagens feitas da pureza infantil, como a da menina correndo em câmera lenta com a boneca na relva, mas isso não fica muito claro.
Uma boa imagem mostra a garota, na casa em que morava com os avós, separando-se deles e mergulhando na luz que jorra da porta aberta da rua. Com mais cenas assim, o vídeo poderia acentuar o estranho clima de terror que lhe é subjacente.
Pena que a qualidade do som direto não esteja à altura do cuidado com a imagem. Em vários momentos ouve-se com dificuldade o que dizem os personagens, e os ruídos nunca têm profundidade.
Não fosse por problemas assim, e pela irregularidade na direção de atores, poderia ser um ótimo especial de TV.
(JGC)

Texto Anterior: Competição é democrática
Próximo Texto: Programação do ciclo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.