São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Acordo de Comércio das Américas

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JÚNIOR

O Brasil tem diante de si desafios objetivos: dinamizar suas exportações e criar uma inserção dinâmica real na economia global. Mas é preciso ter mais clareza sobre como crescer e promover alguma redistribuição da renda; para isso, falta projeto.
Aprovada a emenda da reeleição, que permite a manutenção do governo e de suas equipes de economistas por mais seis anos no poder, agora é o momento de pensar mais além da estabilização dos preços.
Embora o governo diga que agora a economia brasileira está se modernizando para competir globalmente, o fato é que essa é uma frase vazia. Nossas exportações estão mal das pernas: crescimento real de apenas 1,8% nos últimos dois anos, enquanto o comércio internacional cresceu a 6% ao ano.
Para agravar, a fase atual de liberalização do comércio mundial e aplicação intensiva de tecnologias informatizadas levam a um forte crescimento do comércio, mas criam poucos empregos, reforçando a tendência de concentração da renda. Se o Brasil deseja crescer e distribuir renda, é preciso pensar em como fazê-lo.
Sob um panorama de acirramento da competição internacional por mercados, discute-se a criação de uma área de livre comércio das Américas (Alca). Em tese, isso deveria ser um objetivo atrativo para o Brasil, pois são os países desse hemisfério que compram quase 80% dos produtos industrializados que exportamos.
Mas, na realidade, há grande hesitação do governo, pois estamos diante de déficits comerciais enormes e uma maior liberalização para o conjunto da Alca parece ruim. Para dificultar mais, há o protecionismo norte-americano, que limita o acesso ao mercado de diversos produtos na maior economia da região.
Em maio próximo haverá a reunião ministerial de Belo Horizonte para discutir sobre como avançar com a criação da Alca. Antes disso haverá um fórum empresarial para debater a questão.
O projeto da Alca está trazendo um senso de urgência às lideranças do setor privado e à diplomacia brasileira quanto a definições sobre quando e quanto avançar. Mas não será possível deixar esse tema à diplomacia, sem mais clareza no governo como um todo sobre como deve se dar a inserção externa do país.
Por outro lado, não há como pensar um projeto de inserção dinâmica da economia sem que a taxa de câmbio esteja alinhada com o nível competitivo da indústria brasileira. Os déficits comerciais deixam pouca dúvida que isso não ocorre e que é preciso corrigí-la.
Também é claro que o problema não se esgota no câmbio, pois requer-se um conjunto de ações que dinamizem a capacidade exportadora. Mas sem acertar o câmbio, o desafio externo é insuperável.

Álvaro Antônio Zini Jr., 43, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil", Edusp, 1993.

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