São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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O afeto irônico

FERREIRA GULLAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao evocar a figura de Antonio Callado, o que me chega é uma onda de simpatia, de afeto e cordialidade. Essa é a sensação mais próxima, não a do escritor, mas da pessoa, do amigo, em que se experimentava a sinceridade mesclada de humor.
Era sempre gratificante encontrá-lo e trocar com ele algumas palavras. Assim era Callado, um ótimo sujeito, essencialmente íntegro, transparente, firme em suas convicções, mas discreto, cuidadoso com o outro. E penso comigo: essa era a pessoa que elaborava os livros que lemos -romances, ensaios, reportagens-, nos quais se expunha mais abertamente para nos dizer o tanto que sabia sobre nós mesmos, como indivíduos e como cidadãos; o tanto que sabia de nossa realidade, de nossa história, de nossas fraquezas e grandezas, bravuras e bravatas, tudo dito com mestria e um sub-reptício tom gozador.
Com emoção, mas sem passionalismo, já que este nos impede de "cultivar meias palavras com duplo sentido".

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