São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Arte de rua tem endereço

DAVI MOLINARI

Músicos passam a tocar com regularidade em regiões de grande movimento e, mesmo sem apoio de gravadoras, vendem seus discos e divulgam o trabalho

Os músicos de rua de São Paulo já foram confundidos com mendigos. Hoje têm "endereço" e vivem do que tocam ou cantam.
A cidade revela, no eixo Paulista-Consolação-República-Viaduto do Chá, uma macarrônica mistura de etnias, swings, línguas e instrumentos musicais vindos de diferentes lugares.
Ao contrário dos saltimbancos, esses músicos não são itinerantes. Com regularidade, se apresentam em ruas movimentadas e, mesmo sem qualquer contato profissional com gravadoras, vendem CDs, divulgam o trabalho e ganham dinheiro.
O mais antigo no ramo é o Son de Los Andes, grupo que atua no centro da cidade (veja texto abaixo).
Os mais novos preferem a região da Paulista e da Consolação.
Emerson Pinzindin, 32, consegue ganhar R$ 800 por mês em colaborações fazendo o que mais gosta na vida: tocar flauta transversal para transeuntes.
A decisão de buscar a sobrevivência na rua foi tomada em 89, quando ele abandonou a carreira de professor de música. "Naquela época, andava muito aborrecido porque, apesar de ensinar as crianças, eu não tinha tempo de estudar e praticar", diz.
Começou tocando no vão livre do Masp, deixou sua marca registrada na passagem subterrânea da Consolação e, finalmente, foi convidado a tocar dentro do Conjunto Nacional pelo condomínio.
Pinzindin, que começou aos nove anos a tocar corneta em fanfarra, tentou ganhar a vida como vendedor de artesanato, segurança de banco, pesquisador e professor, afirma: "Quero ser um excelente músico. Não sei se tocando na rua isso fica mais difícil ou mais fácil. Mas sei que ganho dinheiro, vendo minha fita e divulgo meu trabalho", diz.

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