São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escola só prioriza elite, afirma candidato

ROSIE BOYCOTT
DO "INDEPENDENT ON SUNDAY"

Pergunta - No Reino Unido os professores são desmoralizados, mal pagos e deixaram de sentir que são membros respeitados da comunidade. Como o sr. pretende modificar essa situação?
Blair - Não estou prometendo dinheiro a ninguém, mas acho extremamente importante valorizarmos nossos professores adequadamente e reconhecermos que a imensa maioria deles trabalha em condições muito difíceis. A única maneira de melhorar o status dos professores é realmente engajá-los na cruzada pela elevação dos padrões de nosso sistema de ensino. Talvez eu seja influenciado pelo fato de ter filhos em idade escolar, mas acredito realmente que a melhoria do ensino, isoladamente, é a coisa mais importante que um possível governo trabalhista deve fazer.
Pergunta - O sr. vai combater o ensino privado? Enquanto instituições como Eton (tradicional colégio secundário para meninos) continuarem fortes, sempre teremos um problema com a educação.
Blair - Sim, existe uma dificuldade quando temos o que George Walden, em seu livro "We Should Know Better" ("Já Deveríamos Estar Avisados"), chama de apartheid educacional. Mas esse problema não será resolvido abolindo as escolas particulares.
Pergunta - Por que não?
Blair - Acabaríamos dedicando todas nossas energias a isso, e isso desviaria nossa atenção da melhoria do sistema de ensino público. Em última análise, a maneira de melhorar o ensino público não é atacar a escola privada, mas elevar os padrões do sistema público.
Os sistemas de ensino público de outros países estão ensinando um número maior de crianças, fazendo-as atingir níveis melhores. Nós, no Reino Unido, somos bons quando se trata de educar uma elite. Não somos bons em educar a população como um todo. É isso que precisamos mudar.
Pergunta - Como alcançar os jovens vitimados por esse sistema?
Blair - Se ainda estiverem na escola, há tempo de corrigir a situação. Quando estão prestes a sair, então é trágico. É por isso que nossa prioridade número um em termos de gastos é um programa destinado aos jovens que saíram da escola sem ter qualificações adequadas e que, por isso, não conseguem emprego.
Se esses jovens não tiverem a oportunidade de obter qualificação ou ajuda com a alfabetização básica, em dez anos veremos que eles terão se transformado numa geração perdida.
Pergunta - E como o sr. vai lidar com a questão das drogas nessa geração perdida? O sr. sempre se mostrou irredutível em sua recusa em promover uma discussão aberta sobre a maconha e o ecstasy, mas o fato que não pode ser ignorado é que um milhão de comprimidos são tomados por semana.
Blair - Sou inteiramente favorável a um debate aberto sobre essa questão, mas não sou a favor da legalização das drogas.
Os jovens estão tomando drogas por toda espécie de motivos, mas eu me preocupo especialmente com aqueles jovens que sentem que não têm esperança, oportunidades ou status na sociedade.
Conheço famílias em minha própria região eleitoral em que o pai está desempregado, o filho está desempregado e daqui a pouco esse filho terá filhos que tampouco terão emprego. Assim, estamos perpetuando o que chamam de uma "subclasse", um grupo de pessoas que vive à parte da maioria da sociedade.

Texto Anterior: Favorito Blair oferece 'raiva' aos britânicos
Próximo Texto: Mídia está mais neutra, avalia trabalhista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.