São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Benazir tenta voltar ao poder amanhã

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto, afastada do poder em novembro passado sob acusações de incompetência e corrupção, busca vencer as eleições legislativas de amanhã para retornar ao governo.
Mas ela enfrenta uma "missão quase impossível" contra o favorito Nawaz Sharif, líder da Liga Muçulmana do Paquistão.
Em 5 de novembro do ano passado, o presidente Farooq Leghari, apoiado na Constituição, afastou Benazir do governo dois anos antes do final do mandato. A ex-primeira-ministra rejeita as acusações de corrupção e incompetência e diz que Leghari busca consolidar seu poder.
Benazir ameaçou boicotar as eleições e chegou a dizer que a votação era uma farsa para permitir a volta ao governo de Nawaz Sharif, um ex-premiê que também enfrentou acusações de corrupção.
Benazir chegou a dizer que não reconhecerá os resultados da eleição caso o seu Partido do Povo do Paquistão (PPP) obtenha menos do que 90 das 217 cadeiras da Assembléia Nacional.
Uma pesquisa de opinião divulgada semana passada pelo instituto Gallup indicou que o partido de Sharif deve conquistar 40% dos votos. Ou seja, será a maior bancada, mas não terá maioria absoluta.
O partido de Benazir deve abocanhar 20% dos votos, segundo a pesquisa. A Gallup Pakistan lembrou que a ex-primeira-ministra costuma crescer junto ao eleitorado nos últimos dias de campanha, o que permitiria ao PPP recolher até 30% dos votos.
Mas o grande vitorioso da eleição deve ser a abstenção. Jornais paquistaneses prevêem que apenas 20% dos eleitores devem votar. Em 1988, a participação atingiu 69% e em 1993, 40%.
A crescente apatia do eleitorado se explicaria pelas insistentes acusações de corrupção contra diferentes partidos e pela instabilidade política: o país realiza sua quinta eleição em 12 anos.
No Paquistão, os partidos não se diferenciam muito pela ideologia. Dependem basicamente de uma liderança política, geralmente com forte base regional.
Em caso de vitória, Nawaz Sharif poderá compor um governo com o Movimento Nacional Mohajir. Dono de antiga rivalidade com Benazir, ele reúne os muçulmanos que deixaram a Índia rumo ao Paquistão, em 1947, quando foi declarada a independência dos dois países.
A novidade das eleições de hoje é o Movimento pela Justiça, criado pelo ex-jogador de críquete Imran Khan. Apesar da popularidade de Khan e de sua mensagem anticorrupção, o partido não deve ter votação expressiva, pois ainda não tem uma estrutura nacional.

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