São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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EUA cobram do Brasil abertura rápida

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS, SUÍÇA

O governo norte-americano avisa ao brasileiro: não dá para respirar no processo de abertura da economia.
"O mundo está em uma corrida de curta distância e alta velocidade. Você tem que continuar correndo para acompanhá-lo", diz Stuart Eizenstat, subsecretário para Assuntos Econômicos do Departamento de Estado.
É uma tese contrária à do Itamaraty que acha que o Brasil já fez uma abertura muito profunda e rápida e não pode correr o risco de "uma segunda onda liberalizante" imediata, como diz sempre o chanceler Luiz Felipe Lampreia.
Responde Eizenstat: "O mundo está se movimentando tão rapidamente que você não pode se dar ao luxo do chamado tempo para respirar, acreditando que o mundo respirará tal como você".
Eizenstat, 53, graduado em Ciência Política pela Universidade da Carolina do Norte e em Direito por Harvard, está no serviço público americano desde 1967.
O subsecretário conversou com a Folha na manhã de sábado, em um intervalo das discussões da edição 1997 do Fórum Econômico Mundial, para falar das relações com o Brasil, que atravessam um período de turbulência.
Eizenstat, no entanto, qualifica as dificuldades atuais como "saudável amadurecimento de um relacionamento em desenvolvimento e em aprofundamento".
Pede, em todo caso, a criação de um foro de diálogo permanente entre os países. E cobra do governo brasileiro "uma genuína abertura para nossas indústrias", em especial na área de telecomunicações.
Folha - Autoridades brasileiras e norte-americanas vêm dizendo, nos dois ou três últimos anos, que as relações entre os dois países jamais foram tão boas. No entanto, agora, há uma guerra de palavras entre autoridades dos dois países.
O sr. acharia correto descrever a situação com um velho ditado brasileiro que diz "amigos, amigos, negócios à parte"?
Stuart Eizenstat - Em primeiro lugar, acho que isso é um amadurecimento natural de um relacionamento saudável. Durante 50 anos, nossos aliados mais próximos foram os europeus e, não obstante, temos constantes fricções, porque o imenso volume de comércio entre EUA e Europa inevitavelmente produz tensões. Ainda assim, o relacionamento é tão saudável que isso é algo periférico.
O que está ocorrendo com o Brasil, na realidade, é um saudável amadurecimento de uma relacionamento em desenvolvimento e em aprofundamento. Com as notáveis reformas que o governo está realizando, os investimentos estão chegando, o comércio está se expandindo exponencialmente e isso inevitavelmente traz tensões comerciais, tanto como benefícios.
Quando o comércio flui, inevitavelmente há divergências.
A questão é saber se temos um mecanismo para lidar com essa situação em vez de ir aos jornais discuti-la. Acho que é preciso desenvolver um foro para canalizar as divergências e resolvê-las.
O segundo ponto é que, à medida que nos aproximamos, inevitavelmente, da integração hemisférica, em 2005, com a Área de Livre Comércio das Américas, também inevitavelmente haverá certo grau de tensão entre o componente Nafta e o componente Mercosul.
Em terceiro lugar, o relatório do Banco Mundial (sobre o suposto protecionismo do Mercosul) realmente teve efeito significativo.
O que precisamos fazer, para baixar a temperatura, é sentar à mesa, examinar o relatório, as nossas estatísticas e as estatísticas do Mercosul, que dizem que o crescimento das exportações de países não-membros do bloco foi de 186% (desde 91).
Nós não temos objeções de princípio em relação a grupos regionais. Afinal, o Nafta também é um.
O Mercosul é uma força liberalizante, pelo menos em seu interior. Temos de ter certeza de que o é também para o exterior do bloco.
Sob esse ponto de vista, não se trata de aceitar o relatório do Banco Mundial como matéria de fé e, sim, de sentar para conversar. Precisamos criar formas de diálogo regulares para não precisarmos falar uns aos outros pelos jornais.

LEIA MAIS sobre o fórum nas págs. 2-3 e 2-5

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