São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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São Paulo dominou, mas não tinha Romário

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se no sistema mata-mata o jogo tem a duração de 180 minutos, digamos que o tricolor teve o domínio da bola e dos espaços por três quartos da partida. É tempo suficiente para definir o placar a seu favor, sobretudo porque não foi o chamado domínio estéril, aquele negócio de tocar a bola de lado etc.
Necas. Ao contrário: com a derrota de 3 a 1, no sábado, o resultado final foi de 4 a 1 para o Flamengo. Simplesmente porque o Flamengo tinha Romário, enquanto o São Paulo dispunha de Valdir. Se trocassem de camisa, por certo, o tricolor estaria afiando sua expectativa de meter a mão na taça do Rio-SP.
E não porque Valdir seja um perna-de-pau, tampouco por pretensa maior excelência do elenco tricolor. Nada disso: Valdir é goleador de respeito, e o Flamengo tem mais time do que o São Paulo.
Apenas o tricolor foi melhor na soma dos dois jogos, mas não teve a capacidade de meter a bola lá dentro.
E esta é a tarefa de Valdir, como é de Romário. Acontece que Valdir atravessa uma prolongadíssima fase de absoluta esterilidade, enquanto Romário é Romário. Para ele, não há fases, a não ser que assim decida por conta própria.
O controle que ele exerce sobre aquela zona de decisão, que vai de um bico ao outro da grande área, chega a ser um sortilégio.
Confesso que, em quase meio século espiando a bola rolar, nunca vi nenhum artilheiro com tal domínio dos nervos, da técnica e dos segredos dos movimentos no ofício de tocar a bichinha para o gol.
Nem o gordo Coutinho, parceiro memorável de Pelé, mestre nessas artes, chegou a tamanha perfeição.
Só fico torcendo, aqui da arquibancada, para que uma luz baixe sobre Zagallo, e ele possa nos oferecer o prazer de ver, nem que seja por uma vez apenas, Romário ao lado de Ronaldinho, com a sagrada camisa amarela.
*
Na outra decisão, deu Santos, mesmo perdendo para o Palmeiras, no sábado, por 1 a 0. Retificando: deu Wanderley Luxemburgo, mesmo perdendo para Márcio Araújo.
E não era para menos. Afinal, o técnico que exclui até do banco um avante do carisma, da técnica e da experiência internacional de um Viola para armar-se com três médios defensivos, embora precisasse vencer por dois gols de diferença, corteja a desclassificação.
Sobretudo porque, na própria análise do técnico Márcio Araújo, o Palmeiras só não ganhou o primeiro jogo porque a dupla de artilheiros -Viola e Luizão- desperdiçou cerca de oito chances de gols.
Quer dizer: o meio-de-campo estava criando, o que é sua função precípua. Logo, não havia nada de errado ali. Se quisesse mexer no time, que mexesse no ataque, onde morava a falha. Tira Viola ou Luizão -até mesmo ambos- e põe um outro goleador.
Ah, mas não há nenhum outro no elenco... Então, vai de Viola mesmo, ô sapiência.
*
Outra vantagem da regra das 15 faltas: o consumidor não é lesado. Paga por 90 minutos de jogo e recebe exatamente o que pagou. Até o fim, o jogo desliza sobre o fio de uma navalha.

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