São Paulo, segunda-feira, 3 de fevereiro de 1997
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Miami é mais Brasil

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Uma frase do padre Antônio Vieira veio-me à tona semana passada. Desde então, martela-me os miolos. Iniciaria o artigo citando-a. Mas há palavras que funcionam melhor como fecho.
Pois bem, comece-se de outro modo. Direi duas palavras sobre os nossos personagens de hoje. Um homem e uma mulher. Marcos Chedid é o nome dele. Jorgina Maria, o dela.
Imiscuiram-se, ele e ela, pelas frestas do noticiário da última semana. Mereciam mais espaço. Mas encontraram as páginas dos jornais tomadas pela reeleição, o tema da moda.
O leitor me desculpe, mas a frase de Vieira, velha de três séculos, coça-me de novo a língua. Creio que não resistirei até o ponto final. Ei-la: "Não é miserável a república onde há delitos, senão onde falta o castigo deles."
Pronto. Podemos prosseguir com Marcos e Jorgina. Há muito a dizer. Ganharam notoriedade como personagens de um Brasil que se deseja extirpar do noticiário. Um Brasil das espertezas à PC e Collor, das falcatruas à anões do orçamento.
Marcos é deputado federal. Jorgina, advogada. Ele é acusado de achacar donos de bingos em São Paulo. Há evidências a granel. Até fitas gravadas. Ela roubou os cofres do INSS. Burras cheias, fugiu para o exterior.
Na semana passada, foram, por assim dizer, a julgamento. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara absolveu Marcos. Rejeitou pedido de cassação do deputado. Um júri popular de Miami condenou Jorgina a devolver ao erário brasileiro U$ 100 milhões.
A absolvição de Marcos Chedid rendeu três votos a favor da reeleição. De resto, deixou no ar a impressão de que os interesses do Brasil estiveram melhor representados em Miami do que na Brasília do vale-tudo reeleitoral.
Como se disse parágrafos acima, a frase de Vieira funcionaria bem como desfecho. Pois volte-se a ela: "Não é miserável a república onde há delitos, senão onde falta o castigo deles."

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