São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Soros equipara capitalismo ao comunismo

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS, SUÍÇA

O capitalismo é igual ao comunismo e ambos são um perigo para a democracia.
Avaliação de quem talvez seja o maior perito mundial em se aproveitar da mais deliciosa faceta do capitalismo: ganhar dinheiro, muito dinheiro.
Chama-se George Soros, tem 66 anos, é húngaro de nascimento, norte-americano de nacionalidade e dirige o "Quantum Fund", geralmente reconhecido como o de melhor performance, entre todos os fundos de investimentos no mundo, em 27 anos de existência.
Mas pode chamar Soros de especulador que ele se diverte.
"O sr. desmente que tenha especulado contra a coroa (moeda sueca) anos atrás?", perguntou-lhe ontem um repórter.
"Não, não desminto", devolveu Soros, sorrindo.
Esse bilionário escolheu justamente o Fórum Econômico Mundial, um grande "happening" capitalista, para desenvolver o seu surpreendente teorema:
1 - "Capitalismo e comunismo têm a mesma raiz, a visão de questões sociais do século passado".
2 - Tal raiz, por sua vez, "deriva do formidável sucesso das ciências naturais" naquela época.
3 - Com isso, criaram-se certezas, supostamente científicas, como o liberalismo absoluto e o marxismo. "O laissez-faire (liberalismo absoluto) baseia-se na mesma estrutura mental do marxismo."
4 - Mas, com o tempo, prossegue, a própria ciência começou a admitir que o mundo é feito também de "elementos de incerteza e caos, o que nos deveria obrigar a reconhecer que tudo pode falhar".
5 - Fecha o teorema a afirmação de que "o fato de que a intervenção governamental provou-se ineficiente não é razão para acreditar que os mercados são perfeitos".
Soros usa sua própria experiência para demonstrar que a falibilidade é mais do que teoria: "Minhas idéias sobre ela me ajudaram muito a ganhar dinheiro".
É possível que Soros use suas idéias para ganhar dinheiro apostando contra a moeda brasileira.
Perguntado se o real está supervalorizado, saiu pela tangente: "É um tema controvertido".
Capital e trabalho
O mundo sindical internacional demonstra plena convergência de idéias ao menos com Soros.
Philip Jennings, secretário-geral da Fiet, abriu uma sessão de ontem da edição 97 do Fórum Econômico Mundial com a seguinte pergunta:
"Vocês diriam que o capitalismo é um sucesso em um mundo em que 3 bilhões de pessoas, de um total de 5,7 bilhões, vivem com menos de US$ 2 por dia?".
A Fiet é a Federação Internacional de Empregados Comerciais, Profissionais e Técnicos, com base em Genebra (Suíça).
Mas nem Jennings nem Soros defendem o socialismo. Ao contrário. Soros acha que o problema é o aperfeiçoamento das instituições, mas ele próprio admite que está mais levantando perguntas do que oferecendo respostas.
A mesma coisa ocorre no lado sindical. Bill Jordan, secretário-geral da CIOSL, a maior central sindical do planeta, conta:
"Há seis meses, fizemos uma reunião em Bruxelas e verificamos que as antigas respostas aos problemas do mundo do trabalho não estavam mais funcionando".
Novas respostas? Ainda não há, a não ser o clássico pedido de que, no mundo todo, sejam respeitados direitos trabalhistas básicos, como o de livre organização, de negociação coletiva, de evitar o trabalho infantil e escravo.

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