São Paulo, terça-feira, 4 de fevereiro de 1997
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Última performance de Chico foi como DJ

XICO SÁ
EM RECIFE

Foi com uma animada sessão de trance e jungle que Chico Science se despediu, em uma festa na noite do último sábado, de um grupo de amigos, um punhado de tietes e pessoas ligadas ao mundo do mangue beat.
Como nos velhos tempos, Science funcionou muito bem como DJ, levando uma penca da sua invejável coleção de discos para fazer a festa.
Era a última performance do rapaz que tinha o hip-hop na alma e criou, na companhia de Fred Zero Quatro (Mundo Livre S/A), d.h. Mabuse e Renato L., o que viria a ser chamado de mangue beat.
Entre cervejas e amigos, ele prometeu levar para a avenida este ano, quando subiria pela primeira vez em um carro de trio elétrico, um tiro certeiro de maracatu e guitarra para combater o festival de "axé music" que assola o país.
"Vamos fazer uma confusão danada", dizia Science, depois de perguntar por amigos comuns que moram em São Paulo e relembrar uma agitada temporada paulistana antes de gravar o primeiro disco, em 92.
Nessa época, o cantor e compositor, em companhia de Fred Zero Quatro (mais Mundo Livre S/A e Nação Zumbi), se divertiam comendo o pão com ovo ou mortadela preparados pelo então produtor Jujuba (hoje líder da banda Coração Tribal).
A "canja" de Science remetia aos velhos tempos em que fazia festas com Mabuse (autor das capas dos discos de Chico e também parceiro musical).
Com o mesmo Mabuse e Jorge Du Peixe (da Nação Zumbi), Science montou uma das bandas mais interessantes e esquisitas da cidade, o Bom Tom Rádio.
Essa banda e o grupo Loustal (comandado por Du Peixe) foram os grandes laboratórios para a futura música de Chico Science.
Nenhuma pessoa que more distante de Pernambuco faz a idéia da importância desse rapaz de Rio Doce (bairro de Olinda) para o Recife. Chico foi o intérprete e referência de um movimento que transformou a cidade em uma espécie de "Seattle miserável".
Depois do mangue beat, os jovens de Recife recuperaram uma espécie de orgulho de morar na cidade, coisa que andava esquecida e afundada na decadência de uma cultura que andava apenas voltada para o folclore e o purismo provinciano.

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