São Paulo, quarta-feira, 5 de fevereiro de 1997
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População contesta ajuste

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Embora eleito com discurso e gestos populistas, sem rumo aparente e por isso chamado em tom de pilhéria de "El Loco", logo depois da posse o presidente Abdalá Bucaram e sua equipe econômica começaram a consultar-se com técnicos e burocratas do Brasil, Argentina, Chile, Bolívia e outros países latino-americanos já ingressados nos "ajustes estruturais".
Um dos mais escutados foi Domingo Cavallo, ex-ministro da Economia da Argentina. Em 1º de dezembro, em tom dramático, com prenúncios bombásticos de explosão social se medidas "drásticas" não fossem tomadas, Bucaram apresentou o seu "plano de ação imediata".
Democracia ameaçada
A democracia "está ruindo", disse o presidente equatoriano, citando uma dívida externa de US$ 13 bilhões, déficit fiscal de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) e inflação de 25%.
Não havia, portanto, como no Brasil e Argentina, a justificativa da hiperinflação. O que Bucaram quer, com o remédio escolhido -a "convertibilidade" no estilo argentino, motivo de várias greves gerais na Argentina e portador do fantasma do desemprego-, é impor disciplina fiscal "estrita", restabelecer a confiança interna e externa e atrair investimentos.
"Populismo carregado de neoliberalismo", escreveu um jornal equatoriano, mistura insustentável, já que populismo pressupõe gastos estatais que os "ajustes" proíbem.
O Estado equatoriano, pelo contrário, seria reduzido com as privatizações programadas.
Aumentos
Bucaram fala em "capitalismo popular", sem que se saiba o que isso significa. O fato é que a população foi atingida em cheio com aumentos de 552% da eletricidade e 273% do gás liquefeito, usado na maioria das cozinhas.
Em 8 de janeiro começaram os protestos populares, com estudantes à frente e invasão policial da universidade de Quito.
Dois dias depois, as manifestações já cobriam dez Províncias, com adesões da Frente Unitária de Trabalhadores e a Confederação de Nacionalidades Indígenas e a idéia de criação de uma Frente Patriótica antiajuste, enquanto Bucaram promete vagamente submetê-lo a plebiscito em abril.

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