São Paulo, quarta-feira, 5 de fevereiro de 1997
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Crime no ar

GILBERTO DIMENSTEIN

Nova York anunciou ontem mais uma arma contra o crime: câmeras de TV.
Instaladas nas ruas, parques e metrô, os aparelhos transmitem imagens para as delegacias. Qualquer movimento suspeito, as patrulhas seriam acionadas.
Além de reforçar a sensação de que a cidade está vigiada, Nova York economiza dinheiro. Um policial rondando pelas ruas sairia bem mais caro.
Depois de cinco anos de serviço, eles ganham em média US$ 4.000 mensais, salário médio de um jornalista americano com o mesmo tempo de profissão.
Insatisfeitos com seus rendimentos, os policiais de Nova York ensinam como servidor público consegue pedir aumento salarial e receber aplausos dos cidadãos -algo impensável no Brasil, onde se cultiva indiferença, raiva ou desprezo pelos funcionários do governo.
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Na luta por melhores salários, o sindicato divulga a tabela de quanto ganham policiais em outras cidades americanas. Em Los Angeles, alguém com cinco anos de serviço recebe US$ 5.500 mensais.
Eles comparam, então, a redução da criminalidade naquelas cidades. Nenhuma delas chega perto de Nova York. Ao justificar o aumento salarial com a eficiência, obtêm simpatia da opinião pública.
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A impopularidade do funcionalismo público brasileiro é a relação inversa. Os brasileiros acham que já pagam muito pelo pouco que recebem. Chega de bobagem: reforma administrativa séria não vai reduzir gastos, mas aumentar eficiência -por isso, é importante facilitar as demissões.
Ninguém com um mínimo de bom senso acredita em segurança pública com policial ganhando R$ 400 mensais; educação com um professor primário embolsando R$ 300; ou saúde com um plantonista de pronto-socorro com R$ 600.
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PS - Apenas em Nova York conheci pessoalmente Paulo Francis. Em quase todas as vezes que estivemos juntos discutimos, mas sempre era instigante, gentil e bem-humorado, o que diluía a irritação. Não apreciava seu ceticismo e desencanto com o Brasil e o ser humano.
Ele dizia que eu era ingênuo e pretensioso. Achava-o desperdiçando sua imensa inteligência, cultura e o fato de ser uma referência nacional -raros jornalistas geraram tanta polêmica por tanto tempo. Mais que Carlos Lacerda ou Samuel Wainer, Francis trouxe os ares do mundo ao Brasil.

Fax: (001-212) 873-1045

E-mail gdimen@aol.com

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