São Paulo, quarta-feira, 5 de fevereiro de 1997
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De máquinas, lucros e perdas

CLÓVIS ROSSI

Davos, Suíça - Sessão do Fórum Econômico Mundial, edição 97, sobre "Globalização e o Indivíduo". Os membros do painel são filósofos, o mais famoso teólogo do mundo (o suíço radicado na Alemanha Hans Küng) e um professor de direito egípcio.
Surpresa: sala lotada, embora o Fórum tenha maciça hegemonia do empresariado, em geral dispensado de filosofar muito.
Até porque, como disse o egípcio Ahmed Kamal Aboulmagd (Universidade do Cairo), a globalização é obviamente boa para negócios e comércio.
Mas Aboulmagd faz a pergunta-chave: "Se é verdade que é boa para os negócios e o comércio, significa que é boa para todo o mundo?". E, se não for, "o que fazer para aliviar as consequências eventualmente negativas?".
Emendou, depois, o teólogo Küng: "Se a globalização for apenas um instrumento para a maximização dos lucros, preparem-se para uma séria crise social".
Nenhum dos quatro painelistas chegou a oferecer respostas objetivas, salvo construir "um conjunto de valores (éticos e morais) compartilhados" por todas as culturas e etnias.
Não sei se o auditório se sensibilizou. O empresariado, com poucas exceções, tende a entender "valores" pelo lado puramente material.
Mas desconfio que as perplexidades dos filósofos e teólogos se disseminam mesmo entre os incluídos no processo de globalização. Por uma simples razão: "As máquinas estão evoluindo muito mais rapidamente do que os humanos", como diz Howard Gardner, professor de educação da mitológica Harvard University (EUA).
Tem razão. A evolução tecnológica dos últimos anos é tão enorme e rápida que o cérebro humano não consegue processá-la e, por isso, fica ansioso, nem que seja pela razão egoísta de não saber se vai continuar ou não "maximizando lucros".
Imagine então os que só estão maximizando perdas.

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