São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Parecer quer facilitar prescrição

DA REPORTAGEM LOCAL

Um parecer da Academia Nacional de Medicina, encaminhado ao Ministério da Saúde, pede maior facilidade na produção comercial e na prescrição da droga.
O parecer reivindica que "sejam eliminadas dificuldades para a produção comercial da talidomida", que os médicos tenham "ampla liberdade de prescrição" e que sejam "estabelecidas condições de rígido controle do seu receituário".
"Estamos pedindo ao ministério que altere certas restrições", diz o dermatologista Rubem David Azulay, presidente da Academia Nacional de Medicina.
Os médicos afirmam que a literatura médica vem recomendando o emprego da talidomida como "tratamento de primeira linha" em várias afecções graves.
A principal delas, permitida na rede pública, é a reação leprótica -uma complicação da hanseníase que acomete 30% dos doentes. Ao agir no sistema imunológico, a droga impede a reação violenta das defesas do organismo ao bacilo.
Foi justamente a capacidade do remédio em interferir na evolução das células que provocou os danos nos fetos em gestação.
Lançada na então Alemanha Ocidental em 1956, a talidomida -cujo princípio ativo é a rifanpicina- era indicada como sedativo e enjôos da gravidez. Anos depois descobriu-se os efeitos teratogênicos da droga, capacidade de deformar o feto sem prejudicar a mãe.
Estigmatizada e proibida, a talidomida continua sendo pesquisada. No Brasil, voltou a ser produzida nos anos 70.
Além de sua eficácia na hanseníase, os médicos citam efeitos benéficos na terapêutica de certos tipos de câncer -como o transplante de medula-, em infecções da mucosa oral decorrentes da Aids, casos de cegueira e no lúpus eritematoso, doença de manifestações cutâneas e vasculares.
"Um termo de compromisso assinado entre paciente e o médico poderia garantir um uso seguro do remédio", afirma Sebastião de Almeida Prado Sampaio. Ele cita o caso dos medicamentos Tigason e Roacutan, que são vendidos com receita especial e com assinatura de consentimento da paciente. Os dois remédios provocam tantos danos ao feto quanto a talidomida.
O parecer enviado ao ministério repete um apelo da Liga Internacional das Sociedades Dermatológicas para um entendimento entre as partes. O objetivo é a produção e o uso controlados da talidomida.

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