São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997 |
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Curtis Mayfield festeja sua volta à vida
CARLOS CALADO
Afastado há seis anos dos palcos e estúdios, o soulman, cantor, compositor e produtor Curtis Mayfield, 54, oferece uma emocionante prova de longevidade musical e amor pela vida. Com o CD "New World Order" (Warner), ele começa a reverter a tragédia que o envolveu durante um show em Nova York, em 1990: a queda de um aparelho de iluminação deixou-o paralisado do pescoço para baixo. Mesmo impedido de tocar guitarra, preso a uma cadeira de rodas, o soulman de Chicago voltou aos estúdios. Utilizou a voz e toda sua bagagem musical para fazer um álbum que não deve nada aos melhores momentos de sua carreira. Acompanhado por figurões do pop negro de várias gerações e estilos, como as cantoras Aretha Franklin e Mavis Staples, os funkeiros Roger e Terry Troutman (da banda Zapp) ou o produtor Narada Michael Walden, Mayfield exibe dez composições. Revisita também três de seus clássicos: "We People Who Are Darker Than Blue" (de 1970), "The Girl I Find Stays on My Mind" (1969) e "It Was Love That We Needed" (1979). "Vá em frente, Mayfield!", abençoa a "rainha" Aretha Franklyn, deixando água na boca dos fãs por sua breve aparição em "Back to Living Again". Rejeitando a armadilha da autopiedade, Mayfield volta a abordar temas como desigualdade social, racismo, violência e drogas, com a mesma sinceridade e alta qualidade musical de seus sucessos dos anos 70 e 80. Foi graças a essa atitude que Mayfield tornou-se um dos maiores nomes da música popular deste século. Ainda mais após o sucesso da trilha sonora que compôs e interpretou para o filme "Superfly" (1972). O timbre vocal agudo e agridoce de Mayfield provoca um contraste perturbador com os toques de denúncia social da canção "New World Order", ou com o frio retrato de um drogado de "Here But I'm Gone". Até ao compor baladas ou canções mais românticas, como "No One Knows About a Good Thing" ou "Let's Not Forget", Mayfield evita os surrados clichês do gênero. Com arranjos mais próximos do rhythm & blues e do pop negro dos anos 90, o veterano soulman consegue atualizar sua música sem perder a personalidade. É o que demonstra em "Just a Little Bit of Love". A batida dançante de R&B mistura-se tanto a vocais soul como a um trecho em rap, que destaca Blaise Mayfield, 14, filho do cantor. Mas o que surpreende mesmo é o otimismo. Mesmo quando podia dançar ao som de sua música, num mundo que ainda não conhecia o horror da Aids ou do crack, Mayfield não soava tão otimista. Uma ironia amarga. Disco: New World Order Artista: Curtis Mayfield Lançamento: Warner Quanto: R$ 18, em média Texto Anterior: Gravadoras lançam boas coletâneas Próximo Texto: Vamos parar de morrer gente inteligente? Índice |
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