São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Desorganização domina mercado nacional

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do aumento na produção nacional, o mercado brasileiro de cinema ainda está longe de poder ser chamado de organizado. Com algumas exceções, o que se encontra hoje é falta de fiscalização e um certo descaso em relação aos resultados de bilheteria por parte de produtores e distribuidores.
Não é preciso muito para saber quais foram os filmes brasileiros de maiores bilheterias nos últimos anos: "Carlota Joaquina", de Carla Camurati, visto por cerca de 1,2 milhão de pessoas, "O Quatrilho", de Fábio Barreto, que teve 1,1 milhão de espectadores de acordo com o consórcio Severiano Ribeiro, e "Tieta", de Cacá Diegues, cuja bilheteria chegou a R$ 3 milhões, com 600 mil espectadores.
O problema, hoje, é descobrir como foram, em termos de mercado, as mais de duas dezenas de produções realizadas no período, já que números não são precisos, muitas vezes não estão disponíveis e outras vezes nem interessam aos produtores.
"Não dá para discutir o mercado brasileiro como se ele fosse organizado como o de Paris ou da Alemanha. Aqui falta também muita fiscalização", diz José Carlos Avellar, presidente da Riofilme, distribuidora de 17 filmes nacionais em 96. Até aí, não há muita novidade. O problema é que, por causa disso, Avellar se recusa a fornecer dados sobre bilheterias.
"Isso é com o produtor, está estabelecido em contrato", diz. Segundo ele, o número só adquire importância quando é interessante para os responsáveis pela produção que ele seja divulgado. "Há um tremendo jogo de marketing, só se divulga quando faz sucesso."
Junto às produtoras, também é possível detectar um certo descaso com o assunto. O escritório de Monique Gardenberg, que dirigiu "Jenipapo", não tinha o número de espectadores do filme, atribuição que, segundo eles, deveria ser da distribuidora.
A situação é pior ainda com o produtor Jofre Rodrigues, de "O Monge e a Filha do Carrasco", uma co-produção falada em inglês que teve como protagonistas Patrícia Pillar e Murilo Benício.
"Depois de ver os primeiros resultados, desisti de saber o resto. Foi uma coisa ridícula. Recebi o primeiro relatório, foi desapontador. Daí em diante, não prestei mais atenção e nem quero saber os números do filme", diz.
Rodrigues reclama de um boicote da mídia ao filme, mas admite que houve problemas no lançamento. "O único lugar com lançamento direito foi em São Paulo e em um cinema só. Isso não é producente", afirma.
Cópias itinerantes
"No mercado brasileiro, um sucesso no cinema deveria ser medido pelo número de espectadores por cópia, e não pelo resultado final de uma bilheteria", afirma Avellar.
O motivo é a irregularidade nos esquemas de lançamento e o pequeno número de cópias. Segundo ele, a grande maioria das produções estréia com cerca de dez cópias que se tornam itinerantes, transferidas de cidade a cidade.
Um exemplo é "O Cego que Gritava Luz", exibido apenas durante uma semana em Brasília -cidade que deu incentivos à produção- e que só vai estrear agora no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A situação de "Como Nascem os Anjos", de Murillo Sales, é semelhante. O filme entrou em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro no final do ano passado. Só agora, no entanto, deve ser distribuído para Belo Horizonte e outras cidades do país.
"É impossível saber, na passagem de ano, os resultados em termos de bilheteria de qualquer filme. Todos os números estariam incorretos. No caso de 'Como Nascem os Anjos', representariam pelo menos um terço das possibilidades do filme em termos nacionais", diz.
Mesmo no caso de "Carlota Joaquina", distribuído pela Riofilme, pode existir imprecisão em termos de bilheteria. "O filme foi exibido no interior de São Paulo com as mesmas cópias que estavam em outras cidades. Não temos como controlar quantas pessoas assistiram", afirma.

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