São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997 |
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Três denunciam tortura na Febem
ANDRÉ LOZANO
Os menores prestaram depoimento no 97º DP, em Americanópolis, zona sul. Eles disseram que levaram socos, chutes e apanharam com cabo de vassoura porque estavam conversando e brincando de jogar chinelos uns nos outros. As supostas agressões foram reveladas anteontem pelos menores ao padre Júlio Lancellotti em visita à UAP-6 (Unidade de Acolhimento Provisório). Marcas O padre Lancellotti, que é coordenador da Pastoral do Menor do Belém, acompanhava uma equipe da TV italiana RAI, que está produzindo uma reportagem sobre o consumo de crack entre crianças de rua. "Verificamos as marcas das agressões aos menores e os convencemos a denunciar a tortura à polícia", disse Lancellotti. Segundo ele, o funcionário apontado como sendo o principal agressor teria mandado o menor M.C.R., 14, contar à polícia que as marcas produzidas em F.V.O., 14, e L.A.O., 17, teriam sido resultado de uma briga entre eles. "Se a gente não contasse essa história, o monitor disse que mataria a gente", afirmou L.A.O. Segundo ele, outras crianças sofreram agressões semelhantes nos últimos dias na unidade. "Tem tortura em todas as unidades." "Refresco e pastel" Segundo os menores, além de socos e chutes, os internos seriam vítimas de agressões conhecidas como "refresco" e "pastel". No primeiro caso, o garoto é mantido de frente a uma parede, a meio metro de distância. Com as pernas afastadas, ele apóia o peso do corpo sobre a cabeça, constada na parede. No segundo, os garotos ficam agachados, sem camisa, e recebem tapas nas costas. Haveria outra forma de agressão que consiste em mandar o garoto sentar e manter os ouvidos pressionados contra as coxas. "Nada justifica que menores, sob a custódia do Estado, sejam torturados", disse o padre Júlio Lancellotti. Ele afirmou que encaminhará ao Ministério Público denúncias de omissão da direção da unidade em relação às agressões e o caso de tortura dos três adolescentes. O delegado do 97º DP, Enjolras de Araújo, instaurou inquérito de lesão corporal dolosa e encaminhou os garotos para exame de corpo de delito. Hoje, ele deverá ouvir o principal suspeito das agressões. Texto Anterior: Abrahim sofria de depressão Próximo Texto: Funcionário será afastado Índice |
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