São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
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Tensão nervosa causou infarto, diz médico

WILSON TOSTA

WILSON TOSTA; CLÁUDIA TREVISAN
DA SUCURSAL DO RIO

Segundo Jesus Cheda, jornalista estava preocupado com a ação movida por diretores da Petrobrás

O médico Jesus Cheda, 66, que tratava de Paulo Francis havia 15 anos, atribuiu ontem o infarto que matou o jornalista à tensão emocional em que ele vivia havia semanas. A tensão, segundo o médico, foi motivada pelo processo que lhe moviam, na Justiça norte-americana, diretores da Petrobrás, exigindo US$ 100 milhões de indenização.
O processo fora causado por afirmações feitas por Francis, no programa "Manhattan Connection" -feito em Nova York mas exibido no Brasil, no canal GNT-, de que todos os diretores da estatal teriam contas na Suíça.
"Você leu o artigo do Elio Gaspari, publicado ontem (anteontem)? Foi, na realidade, aquilo", disse Cheda, referindo-se ao texto "Doutor Joel Rennó, o Senhor Ganhou", publicado na Folha e em "O Globo", em que Gaspari relatou a inquietação vivida pelo jornalista desde que se iniciara a ação judicial. Joel Rennó preside a Petrobrás. A diretoria da Petrobrás foi procurada ontem pela Folha, mas avisou que não se pronunciaria sobre nada relacionado à morte do jornalista.
Segundo o clínico-geral, ele chegou a receitar para Francis o calmante Ativan, para que o jornalista voltasse a dormir. O comentarista da Rede Globo perdera o sono desde 1996, quando começara a ação judicial.
"O problema do Francis é que vivia em tensão por causa do processo", disse. "Acho que, quando a gente tem uma tensão nervosa, tem problemas emocionais que podem afetar o sistema cardiovascular. Ele reclamava que aquilo (o processo) o estava incomodando muito.", completou.
"Francis estava perfeitamente saudável", disse Cheda, explicando que o jornalista fazia checagens de saúde completas a cada seis meses. "Fez o último exame em dezembro, e estava com tudo normal: triglicerídeos, colesterol, HDL, açúcar, pressão arterial."
Amigo de Francis, o médico disse que, a seu pedido, o jornalista parara de fumar 15 anos atrás, e fazia caminhadas regulares havia 10 anos. Francis também seguia uma dieta com baixa taxa de colesterol, sem carne vermelha e rica em vegetais e carne de aves sem pele, além de peixe.
O comportamento não se encaixa no perfil de quem sofre problemas cardíacos -geralmente pessoas que fumam, são sedentárias e cuja dieta é rica em gorduras.
O médico rebateu as acusações de que pode ter se enganado ao diagnosticar como bursite (inflamação) uma dor no ombro e braço esquerdos do jornalista -um dos sinais do infarto do miocárdio pode ser uma dor forte na região.
Cheda explicou que Francis sentia a dor da bursite quando movimentava o braço. A dor do infarto, afirmou, não depende de movimentos e não dura muito tempo antes da precipitação do ataque cardíaco.
Em 31 de janeiro, o médico fez, no ombro de Francis, uma infiltração (injeção) de medicamentos. Imediatamente, segundo ele, o jornalista conseguiu mover o braço, sem sentir dores.
Velório
O corpo de Francis foi velado ontem em Nova York e será enterrado hoje às 17h, no cemitério São João Batista, no Rio.
Amigos, jornalistas e diplomatas foram até a casa funerária John Krtil cumprimentar a viúva de Francis, Sônia Nolasco.
O embaixador do Brasil no Canadá, Carlos Alberto Santos Neves, foi ao velório e deve acompanhar o enterro hoje no Brasil.
Também compareceu o apresentador Jô Soares, em férias na cidade. "Eu estou chocado. Nos havíamos marcado na sexta-feira passada um almoço para a quarta-feira, um dia depois de sua morte", disse ao sair do velório.
O cônsul do Brasil em Nova York, Marcus de Vincenzi, e o embaixador do Brasil junto à ONU, Celso Amorim, também estiveram na casa Krtil.
A primeira-dama de São Paulo, Nicéa Pitta, também esteve no velório. O corpo foi levado ao Brasil no vôo 861 da Varig.

Colaborou Cláudia Trevisan, de Nova York

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