São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Congresso derruba Bucaram

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Congresso do Equador destitui o presidente do país, Abdalá Bucaram, por "incapacidade mental". Bucaram gosta de usar o apelido "El Loco".
A decisão foi tomada na madrugada de hoje, por 44 votos a favor e 34 contra. Dois deputados, irmãos de Bucaram, se abstiveram.
Bucaram reagiu imediatamente, dizendo que não vai reconhecer a decisão dos deputados. "Desrespeitando a Constituição e as leis, se tentou dar um golpe de Estado a partir do Congresso Nacional", afirmou. "O governo convoca à ordem toda as autoridades do país." Bucaram não quis dizer quais serão seus próximos passos.
O presidente do Parlamento, deputado Fabián Alarcón, vai conduzir o governo interinamente por um ano, até que novas eleições sejam realizadas para os cargos de presidente e vice, que foram considerados vagos (leia texto ao lado).
Alarcón tomou posse minutos depois do resultado da votação. "Farei respeitar com minha própria vida a resolução que este Congresso Nacional tomou esta noite", disse.
A sessão que levou ao impeachment começou às 19h05 (22h05 em Brasília), com mais de uma hora de atraso, e durou cerca de três horas. Após o seu final, as ruas de Quito, a capital, foram tomadas de pessoas que comemoravam a decisão
Manifestações
A destituição é consequência da pressão de uma revolta social contra Bucaram, que ficou menos de um ano no governo. Eleito com uma plataforma populista, Abdalá Bucaram tomou medidas impopulares, como o aumento de tarifas públicas.
Desde quarta-feira, ele enfrentava uma greve geral. Inicialmente marcada para 48 horas, foi estendida para durar até a queda do presidente. Pesquisas de opinião mostravam que mais de 60% da população apoiavam a saída dele.
Durante os últimos dois dias, Bucaram fez o possível para manter seu mandato. Foi à TV prometer mudanças no governo, anunciou a saída de um secretário e três ministros (inclusive um irmão seu) e recuou no aumento das tarifas públicas.
Não adiantou. O Congresso convocou uma sessão extraordinária para votar a vacância do cargo. Na tarde de anteontem, 51 deputados pediram a destituição
Segundo a agência "France Presse", vários deputados denunciaram tentativas de suborno por parte do governo, o que pode explicar por que alguns parlamentares recuaram.
As Forças Armadas se mantiveram neutras durante a crise. Um comunicado delas pediu o respeito à Constituição e à democracia.
Na TV, Bucaram elogiou também o comportamento dos grevistas, mas, à noite, uma manifestação de 4.000 pessoas em frente ao Congresso terminou em confusão, deixando pelo menos dois feridos.
O saldo de feridos da véspera havia sido 18, em todo o país. A greve geral teve apoio maciço nas principais cidades e no interior, onde a população indígena tem força.
O nome de Alarcón como presidente-interino, por decisão de seus colegas, desagradou à vice de Bucaram, Rosalía Arteaga, que se apresentou na quarta-feira como substituta legal.
A Constituição equatoriana é ambígua quanto à questão. Ao saber que Alarcón poderia assumir, Arteaga acusou-o de golpe.
Alarcón também dissera, um dia antes do impeachment, que Bucaram ordenara a sua prisão e que o Parlamento corria o risco de ser fechado.
O deputado que apresentou o pedido de afastamento, Franklin Verduga, alegou que o fato de Bucaram atuar em atividades artísticas e esportivas são prova de seu desequilíbrio mental.

Texto Anterior: Terapia de genes protege ratos contra o mal de Parkinson
Próximo Texto: Destituição foi rápida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.