São Paulo, sábado, 8 de fevereiro de 1997
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Paulo Francis é enterrado no Rio

DA SUCURSAL DO RIO

Sob uma chuva de pétalas de rosas vermelhas e brancas jogadas de um helicóptero e diante de cerca de 200 pessoas, o corpo do jornalista Paulo Francis, 66, foi enterrado, no fim da tarde de ontem, no cemitério São João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio).
Francis morreu na última terça, vitimado por um ataque cardíaco, em Nova York. Seu corpo chegou ao Rio às 10h10 de ontem, no mesmo vôo que trouxe sua viúva, a jornalista Sônia Nolasco, e dois dos seus companheiros do programa "Manhattan Connection", Lucas Mendes e Caio Blinder.
Alguns amigos de Francis disseram que, nas semanas que antecederam o infarto, o jornalista se mostrava preocupado com um processo que era movido contra ele, na Justiça norte-americana, por iniciativa de diretores da Petrobrás, que lhe exigiam uma indenização de US$ 100 milhões. Francis os acusara de ter contas na Suíça. A Petrobrás não se pronuncia sobre o processo.
O jornalista reclamava que o processo acontecia injustamente nos EUA, embora o programa em que as afirmações teriam acontecido -feito em Nova York- tivesse sido exibido no Brasil, onde as ações indenizatórias atingem valores bem mais baixos.
"Uma empresa que move um processo de US$ 100 milhões nos Estados Unidos contra um jornalista brasileiro pretende exatamente o que conseguiu", afirmou o jornalista Augusto Nunes, vice-presidente de Comunicação do Banco de Boston, no velório.
"Todo mundo que conhece Paulo Francis sabe que ele não tinha dinheiro para pagar. É óbvio que a empresa não queria receber esse dinheiro. Queria calar o Francis. E conseguiu."
Também para outro amigo do comentarista, o jornalista Ruy Castro, a tensão gerada pelo processo pode ter tido influência no estado de saúde de Francis. "Ele ficava às vezes muito chocado por não ser compreendido pelas críticas que fazia", afirmou. "Então, uma retaliação tão brutal pode ter conseguido desapontá-lo muito."
Outros amigos acham que o processo pode não ter tido qualquer relação com o infarto. "Ele estava bravo com o processo, mas não vejo isso como um fator deflagrador", afirmou Blinder. O editor Jorge Zahar lembrou que Francis demonstrava preocupação com o problema, mas "não excessiva".
O presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, esteve de manhã na capela. Muito emocionada, a viúva não quis dar declarações. Millôr Fernandes, amigo desde os anos 50, também se emocionou. E só conseguiu dizer uma palavra: "Acabou".

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