São Paulo, sábado, 8 de fevereiro de 1997 |
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Bucaram decreta emergência no Equador; país tem três presidentes
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS; DA REDAÇÃO * Chefe de Estado contesta a destituição por incapacidade mental* Deputado assume governo, e vice-presidente dá posse a si mesma * Militares mantêm neutralidade e pedem negociação entre políticos Abdalá Bucaram, presidente destituído do Equador, decretou ontem estado de emergência em uma tentativa de resistir ao impeachment e foi à noite para Guayaquil, onde tem sua base política. As garantias constitucionais foram suspensas, mas não se sabe até que ponto a medida vai vigorar. O Equador despertou ontem com três presidentes, mas nenhum deles governando de fato. Bucaram, que usa o apelido "El Loco", foi destituído ao ser considerado mentalmente incapaz, na noite de quinta-feira (madrugada de ontem no Brasil), por 44 dos 82 deputados do país. Ele se recusa a aceitar a decisão e diz que ainda é o presidente do país. O presidente do Congresso, Fabián Alarcón, foi eleito por seus colegas para um mandato temporário. Se mantiver seu governo, deve convocar eleição em um ano. A vice-presidente, Rosalía Arteaga, argumenta que constitucionalmente é ela quem deve suceder Bucaram e assinou um decreto assumindo o cargo. A destituição de Bucaram se seguiu a uma série de manifestações populares contra medidas econômicas do presidente. Ele reagiu imediatamente dizendo que o Congresso dera um golpe. As Forças Armadas se mantêm neutras. Emergência O impasse prosseguiu por todo o dia de ontem. Bucaram decretou o estado de emergência no começo da tarde, sob o argumento de resguardar a ordem constitucional. Ele passou o dia no palácio presidencial de Carondelet e, por volta de 19h (22h de Brasília), o abandonou para ir a Guayaquil. Ao chegar, deu um ultimato para que Alarcón deixasse de "usurpar o poder" e fosse à cidade até as 18h de hoje (21h de Brasília), ou renunciasse "a sua condição de político e de homem". Momentos antes, manifestantes incitados por Alarcón tentaram invadir o palácio e foram reprimidos por policiais e pelo Exército. As Forças Armadas se mantinham neutras. "Nossa posição é absolutamente apolítica", disse o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas, Paco Moncayo. "Não assumiremos o poder." Os militares propuseram uma reunião entre os três "presidentes", para resolver a crise. Alarcón disse que não tem nada a negociar com Arteaga e Bucaram. Bucaram pediu uma reunião com os três poderes, mas na qualidade de único chefe do Executivo. Já Arteaga firmou seu decreto na qualidade de "vice-presidente constitucional da República, eleita por votação universal e direta do povo equatoriano". Uma outra saída que parecia viável ontem era a convocação de uma assembléia de notáveis, que teria o poder de uma Constituinte e de arbitrar o vazio de poder. A assembléia seria composta por cerca de 70 pessoas, entre elas ex-presidentes da República e líderes sindicais e indígenas. A igreja pediu uma saída com diálogo. Durante todo o dia, houve manifestações no Equador, principalmente contrárias a Bucaram. Elas são a continuação de uma greve geral que começou quarta com objetivo de derrubar o presidente. Eleito com uma plataforma populista, Bucaram perdeu apoio da sociedade ao propor medidas como o aumento de tarifas públicas e a convertibilidade do sucre, a moeda nacional -medida recessiva, segundo a oposição. Na tentativa de salvar o mandato, Bucaram revogou os aumentos horas antes do impeachment e anunciou a saída de ministros. LEIA MAIS sobre o Equador às págs. 1-12 e 1-13 LEIA EDITORIAL sobre a crise equatoriana à pág. 1-2 Texto Anterior: Militares ficam neutros na crise Próximo Texto: Corte e deputados se desentendem Índice |
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