São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997 |
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América Latina sente 'fadiga das reformas'
CLÓVIS ROSSI
Há no subcontinente uma "fadiga das reformas", acredita Riordan Roett, diretor do programa de estudos latino-americanos da Escola de Estudos Internacionais Avançados (EUA). Consequência, afirma ele, do aumento da resistência ao custo social decorrente da liberalização dos mercados nacionais. Roett fala como "latino-americanista", sua especialidade, mas a "fadiga das reformas" parece generalizada. Finanças x manufatura Klaus Schwab e Claude Smadja, presidente e diretor-gerente do Fórum Econômico Mundial, dizem que, à medida que o "o capitalismo financeiro sobrepuja o capitalismo manufatureiro", ou se acha um equilíbrio ou "haverá uma exacerbação do ressentimento, das tensões sociais e dos conflitos trabalhistas". Questão geográfica Quem, em tese, fala pelo mundo todo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, tem visão parecida. "Hoje, o capitalismo não tem um grande rival ideológico. Sua maior ameaça vem do próprio capitalismo. Se este não puder promover tanto prosperidade como justiça, não será bem sucedido", analisa Annan. Não é só uma questão social. É também geográfica, depõe Ahmed Kamal Aboulmagd, professor de Direito da Universidade do Cairo (Egito). "Venho de uma parte do mundo em que a globalização é vista como ocidentalização, o que causa ressentimento", considera Aboulmagd. Colchão sem molas Dúvidas e perplexidades à parte, os líderes mundiais reunidos em Davos, chegaram à óbvia conclusão de que essa revolução econômica em andamento cria problemas e resistências. Concluíram também que é preciso descobrir como "ajudar os excluídos sem perpetuar a ilusão de que se pode brecar a revolução econômica", como resumiu o relator geral do Fórum-97, o senador democrata norte-americano Bill Bradley. Bradley diz que a ajuda viria na forma de assistência médica, seguridade social e educação para a vida toda. Todos esses fatores combinados, segundo o senador dos EUA, serviriam para "equipar as pessoas para lidar com as transformações". Mas Bradley admite que há problemas qualquer que seja a fonte de recursos para financiar o colchão social: se vierem do setor privado, tirarão a flexibilidade deste. Se vierem do setor público, levarão a impostos mais altos. Só falta, conclui Bradley, "sabedoria política para encontrar o correto equilíbrio". Ou seja, falta tudo. Texto Anterior: Um mundo sem 'ninguém no comando' Índice |
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