São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 1997
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CONTRA O DESPERDÍCIO

Como o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu, em entrevista coletiva dias atrás, a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) não vai resolver o problema da saúde no país. Deve, na melhor das hipóteses, liquidar um passivo já antigo. A adoção do novo imposto não mudou a condição brasileira de país que investe mal, e talvez pouco, no setor.
Antes mesmo de formular perguntas acerca da quantidade de gastos, cabe perguntar sobre a sua qualidade. E, nesse quesito, apesar de algumas louváveis exceções, o Brasil acabaria certamente sendo reprovado.
Doenças que já haviam sido consideradas erradicadas estão retornando, e com força. O vergonhoso mercado de fármacos, em que pese algumas malsucedidas tentativas de moralização, permanece um caos, com danos tanto para a saúde como para o bolso da população.
Ações tão elementares como o combate ao Aedes aegypti (vetor da dengue e da febre amarela) e vacinações em massa contínuas não têm sido implementadas com o devido rigor. A hepatite-B, que não cessa de crescer e é muitas vezes letal, não recebe a devida atenção das autoridades sanitárias, apesar de existir uma vacina eficaz contra a moléstia.
Mais grave ainda, o desperdício, o empreguismo e a tolerância imperam nos centros públicos de saúde, como, aliás, parece ser a tônica da administração estatal em geral.
Não há dúvida de que o governo deve aos hospitais conveniados ao SUS, com base em preços irrisórios, e tem de pagá-los. Da mesma forma, é igualmente certo que a CPMF não vai resolver o seriíssimo problema estrutural do setor. Já passa da hora de abandonar o recurso a paliativos e procurar soluções mais definitivas.
Seria ótimo se o país pudesse dispor de mais dinheiro para a saúde. Antes, porém, é imperativo que as verbas já existentes sejam aplicadas com critério, rigor e seriedade.

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