São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 1997
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OS RISCOS DOS RICOS

Os ministros das Finanças dos países ricos (o G-7), reunidos no último fim-de-semana, têm à sua frente uma agenda bastante complexa. A trajetória das taxas de câmbio entre as principais moedas do planeta voltou a inspirar cuidados. A necessidade de uma ação coordenada é premente.
Há dois desafios simultâneos: a desvalorização do iene e o ceticismo renovado com relação ao euro (a futura moeda única européia). Um dólar, que há quase dois anos valia menos de 90 ienes, valia na semana passada em torno de 124 ienes. O euro sofre com as dificuldades crescentes de obtenção do ajuste fiscal nas principais economias da União Européia.
A economia japonesa está praticamente estagnada há quase quatro anos, e o seu sistema financeiro é vítima de uma grande fragilidade. No período de valorização do iene, houve uma intensa reestruturação industrial. As principais empresas japonesas instalaram muitas fábricas na Ásia, Europa e nos EUA.
A inversão recente na trajetória do câmbio complica a vida dessas empresas e de toda a sociedade japonesa, mais vulnerável às importações encarecidas pelo iene desvalorizado.
Na Alemanha, a taxa de desemprego recorde significa que medidas de ajuste fiscal (corte de gastos públicos, aumento de impostos) tornam-se mais difíceis politicamente. O mesmo raciocínio vale para outros países europeus. Mas sem ajuste fiscal rápido, a credibilidade da futura moeda européia fica prejudicada.
A economia norte-americana é a única, entre as mais desenvolvidas, a exibir uma performance francamente positiva, com crescimento, inflação baixa, desemprego reduzido e modernização tecnológica intensiva.
Resta saber se os Estados Unidos estarão realmente dispostos a se "coordenar" com os governos do Japão e da Europa em favor de uma convergência entre as suas economias. O risco maior é o de o país mais rico acreditar que, sem os outros, "menos ricos", sua hegemonia global poderá tornar-se ainda maior.

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