São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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O alerta de Falconi

LUÍS NASSIF

O Plano Real dividiu o Brasil em dois: as empresas que tiveram de enfrentar a concorrência pesada dos importados e as empresas que se saíram bem com a explosão do mercado interno.
Pressionado pelo câmbio desfavorável, o time dos derrotados está se virando como pode. Mas os vitoriosos estão se acomodando.
Empresas brasileiras que ganharam competitividade internacional estão descansando sobre os louros, e isso poderá ser fatal, porque o processo de globalização está apenas no início.
O alerta é do professor Vicente Falconi Campos, papa da qualidade total no Brasil, consultor das principais empresas brasileiras.
No momento, muitas dessas empresas estão em posição privilegiada. Mas começam a ser afetada pela chamada arrogância de líder.
No campo dos eletroeletrônicos e de linha branca, alerta Falconi, todos os gigantes mundiais estão vindo para o Brasil. Daqui a um ou dois anos, haverá uma superoferta, que derrubará os preços.
Em vez da empáfia, as empresas nacionais vitoriosas têm de partir rapidamente para novas rodadas de redução de custos e aumento da produtividade, para sobreviver ao segundo round.
Câmbio e modernização
Em sua atividade de consultor, Falconi vê a economia do lado oposto dos macroeconomistas. Ou seja, os efeitos das decisões macroeconômicas sobre o mundo das empresas.
Como engenheiro metalúrgico, aprendeu a lidar com sistemas não-rígidos. No alto-forno, é preciso prestar atenção a cada componente para obter o equilíbrio final.
Com sua visão acurada de grande observador da realidade, Falconi transporta esse sistema para uma economia de mercado.
Até 1990, tinha-se uma economia rígida, fechada. Depois da abertura, cada vez mais se parte para uma economia aberta, onde os sistemas se afetam mutuamente.
Uma mudança nos juros afeta o câmbio, que afeta a produção, que afeta a postura dos empresários e assim por diante. Embora reconheça os problemas causados pelo câmbio apreciado, Falconi considera que essa situação de aperto tem sido o principal motor de modernização do país.
O aperto do câmbio -diz ele- está impedindo as empresas afetadas de se acomodarem. Tem provocado verdadeiras revoluções estruturais nas empresas, mudanças de postura, investimentos. "O país inteiro está se reajustando", diz.
Em sua opinião, se o governo recuar agora vai haver afrouxamento geral nos ajustes. A hora é de falar e investir cada vez mais no conceito de qualidade e de produtividade, afirma ele.
Pelos seus cálculos, a produtividade média no Brasil está aumentando 12% ao ano. Caso a inflação deste ano fique em 7%, será a primeira vez que a produtividade será maior que o aumento de preços.
Falconi julga que os reflexos sobre a economia serão imensos.
Embora a coluna venha defendendo a flexibilização da política cambial, a visão de Falconi deve ser considerada como elemento relevante de análise.
Abertura e FHC
A afirmação do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, de que a abertura do governo Collor foi excessiva não tem base nos fatos. Excessiva foi a abertura imposta pelos primeiros seis meses de Plano Real.
Uma das tarefas construtivas do governo Collor foi o programa de abertura da economia. Houve disciplinamento das alíquotas de importação e a fixação de prazo de quatro anos para a redução gradativa das alíquotas.
Abriu-se a economia e os superávits comerciais foram mantidos.
Esse processo foi destruído pelo Plano Real. Primeiro, pela apreciação do câmbio. Depois, pelos meses de absoluta irresponsabilidade da gestão Ciro Gomes na Fazenda -mas assessorado por economistas do Real.
Em julho de 1994, a balança comercial ainda era superavitária. Em novembro, já era deficitária.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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