São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997
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Máxi traria problemas, dizem consultores

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mudar ou não a política cambial é questão que divide economistas que participaram de governos passados no Brasil. Mas em uma coisa especialistas ouvidos pela Folha concordam: este não é assunto para Presidente, a não ser que a afirmação tenha endereço certo.
Anteontem, em Roma, FHC garantiu que nem mesmo o déficit de US$ 5,5 bilhões da balança comercial (importações maiores que as exportações) em 96 determinará mudanças na política cambial.
Isso foi suficiente para aumentar o volume das especulações em torno de medidas nessa área.
Na avaliação do deputado e ex-ministro Antonio Delfim Netto (PPB-SP), FHC só falou porque a platéia demandava uma posição clara. "Fernando Henrique é um homem preparado. Estava dizendo algo porque alguém queria ouvir", afirmou Delfim.
Mas nem mesmo provocado o presidente deveria falar no assunto, diz o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, porque a especulação é certa.
Quanto a mexer no câmbio, Nóbrega avalia que além de não resolver o problema do déficit na balança comercial e no balanço de pagamentos (que inclui também serviços da dívida externa), poderia causar crises sérias, principalmente para o setor financeiro que buscou dinheiro no exterior para dar crédito no Brasil.
"Só para o setor rural entraram US$ 4,9 bilhões em 96", disse Nóbrega. "Fazer mudança cambial sem o necessário ajuste fiscal é comprar passagem para o inferno", diz o ex-ministro.
O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore concorda com Nóbrega. Mexer apenas no câmbio, segundo ele, não resolve nada e uma maxidesvalorização seria um erro.
"Isso não é como curar dor de cabeça, que sara com um comprimido. Tem de mexer em algumas coisas. O câmbio é uma parte, mas a política fiscal do governo é exageradamente expansionista, enquanto a política monetária é contracionista há tempos", explicou. Para o consultor, melhor do que ouvir o presidente negar mudanças é analisar o discurso do ministro Pedro Malan (Fazenda), que é técnico e não faz afirmações com preocupações políticas.
Pastore cita recente afirmação em que Malan afirmou que o que não quer é manter o câmbio fixo. "Com isso ele resguardou o poder do governo de mexer na taxa se achar conveniente", disse.
Entre empresários, uma mudança no câmbio também não seria necessariamente bem-vinda, já que muitos estão endividados em dólar. Mas a cobrança é por medidas que permitam mais competitividade aos produtos brasileiros.
O diretor do departamento de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Luiz Fernando Furlan, diz que o governo deve buscar produtividade nos setores que controla (como energia), além da conquistada pela indústria. "Até agora só aumentaram esses preços, sobrecarregando ainda mais as exportações", afirmou.
Sobre a afirmação de FHC, Furlan disse que não se pode pôr em dúvida a palavra do presidente. E o câmbio está se desvalorizando gradualmente, como o governo disse que aconteceria, lembrou.

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