São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997
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Peça une as paixões de Nelson Rodrigues

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O futebol entra no teatro de Nelson Rodrigues na montagem carioca "Decote", de Daniel Herz e Susanna Kruger.
A peça, que estréia hoje no Teatro Popular do Sesi, traz à cena personagens inspirados em Nelson Rodrigues. Eles passam por diversas situações vividas em um dia de jogo decisivo, um Fla-Flu. "Nelson nunca juntou as duas coisas, as duas vertentes às quais era tão apaixonado, o teatro e o futebol", afirma um dos diretores, Daniel Herz.
O texto é uma criação coletiva da companhia Atores de Laura, do Rio de Janeiro. Segundo Herz, o grupo adotou uma dramaturgia apoiada em três pilares: situações afetivas passionais, universo do futebol e coro dos vizinhos que nos espreitam.
Vocabulário
O grupo leu toda a obra de Nelson Rodrigues para dela extrair os valores, os desejos que o dramaturgo aborda, o vocabulário que usa.
"Criamos novas situações e tentamos construir novas histórias. Mantivemos o vocabulário matemático, calculado, dos textos de Nelson Rodrigues", diz.
Um exemplo que o diretor cita: "Quando Nelson Rodrigues escreve 'a pequena' em seus textos, o leitor pode vislumbrar a mulher toda. Lidamos com a palavra desta forma".
Segundo ele, um aspecto marcante que foi resgatado em "Decote" é a abordagem da perversão. "Os desejos fluem de forma livre."
Durante o estudo da obra do dramaturgo, houve, segundo o diretor, uma transformação do elenco.
"Os atores começaram a ser menos moralistas. Todos nós percebemos que nada é muito condenável, que o ser humano é contraditório porque tem emoções conflitantes", diz.
Outra característica que o texto busca manter é a mistura do banal com o sublime, típica em Nelson Rodrigues. "Ele perdoa qualquer perversão desde que ela venha acompanhada de paixão", diz Herz.
Uma das personagens de "Decote" é uma mulher que vivia reclamando da traição do marido. Até que ele sofre um acidente, faz um exame de consciência e resolve ser fiel dali para frente. "Quando ele pára de trair a mulher, o casamento afunda. A mulher no fundo adorava que o marido a traísse", afirma Herz.
O título, segundo o diretor, é uma brincadeira, uma alusão ao buraco da fechadura. "Pelo decote que se tenta entrar na intimidade."
Mas, além disso, toda a trama se desenvolve nas quatro horas que antecedem um Fla-Flu. "O futebol é a energia passional, tão universal quanto as relações entre as pessoas."

Peça: Decote
Direção: Daniel Herz e Susanna Kruger
Com: Cia. Atores de Laura
Quando: estréia hoje, às 17h e 20h30; qui, sex e seg, às 20h30; sáb e dom, às 17h e 20h30 (de 13 a 17 de fev)
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, metrô Trianon) Ingresso: gratuito, que deve ser retirado uma hora antes do espetáculo

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