São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 1997
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Será o norte do Canadá mais quente que o sul?

DAVID DREW ZINGG
EM NOVA YORK

Ultimamente venho recebendo vários comunicados mal-humorados dando conta de que eu reclamo demais do frio que faz no Canadá.
Antes de o pessoalzinho simpático do Ministério canadense das Relações Exteriores me privar de minha licença gratuita para consumir gordura de baleia, permita que eu explique: vai ver que não faz tanto frio assim no Canadá, afinal.
É difícil para mim dizer se faz ou não frio em todo aquele grande país branco. É difícil dizer porque visitei apenas a parte sul do país, onde fiz meu número famoso, aquele em que interpreto uma estátua de gelo.
Quem sabe, hein, Joãozinho? Pode ser que quanto mais ao norte você viaje no Canadá, mais quente fique o clima.
Se você chegar realmente perto do Pólo Norte, talvez tope com um grupinho alegre de senhoras inuit (esquimós) canadenses vestindo elegantes biquínis tipo garota de Ipanema, feitos de pele de urso polar.
Quem sabe? Na próxima viagem eu te conto.
Frio nova-iorquino
Seja como for, agora estou na Grande Maçã. Surpresa -aqui também está fazendo frio.
Na noite em que cheguei aqui, vindo de Ottawa, fazia tanto frio que vi um tarado exibicionista (daqueles que abrem o casaco para mostrar suas partes íntimas às transeuntes assustadas) na Times Square.
O pobre pervertido sexual estava tremendo de frio. Não estava abrindo o casaco -apenas entregando senhas para serem usadas quando o clima esquentar.
Quem confia nos políticos?
Nova York e Brasil parecem partilhar da mesma alta estima em que têm os políticos.
Uma sondagem recente mostra que os norte-americanos situam os políticos no mesmo nível de confiabilidade do que aquele pessoal simpático que vende carros usados.
A sondagem mostrou que os políticos são considerados bem menos confiáveis do que as "hookers", o termo de gíria local para designar prostitutas.
A sondagem, com abrangência nacional, foi feita com 900 eleitores registrados. Perguntou-se a eles qual é a pessoa que mais provavelmente lhe dirá a verdade: um político, um vendedor de carros de segunda mão ou uma prostituta.
O resultado surpreendeu: 55% responderam que seria uma prostituta, contra 12% que escolheram um político, e 11% que preferiram apostar no vendedor de carros usados.
Os 22% restantes não souberam responder.
Chicago?
O musical da Broadway é provavelmente a maior contribuição de Nova York para a cultura mundial.
À primeira vista, parece ligeiramente irônico que o maior musical a enriquecer os palcos nova-iorquinos no momento leve o nome da segunda maior cidade da Gringolândia, Chicago.
É extremamente difícil conseguir ingressos para o musical -portanto, se você pretende vir para o centro do mundo no futuro próximo, esteja preparado para gastar bastante "moolah".
Faça o que for preciso -dê gorjetas excessivas, implore a seus amigos influentes, alugue sua namorada-, mas não perca esse espetáculo.
"Chicago" é sobre o falecido coreógrafo da Broadway Bob Fosse. É sobre a maior preocupação de Fosse: sexo.
Quando se tratava de arrebitar uma bunda ou revelar um seio, Fosse era mestre reconhecido. Ninguém que vem a Nova York deve perder "Chicago".
Seios
A televisão aqui na Gringolândia tem uma grande qualidade: nos trazer o inesperado.
Na semana passada, de repente, me vi diante de um filme detalhado sobre um tema que sempre prendeu minha atenção: seios.
O filme entrou em detalhes sobre o tema. Era feito de entrevistas sobre o significado e a metafísica dos seios, realizadas com 22 meninas e mulheres de 6 a 84 anos de idade.
O filme -cujo título extremamente enaltecedor e apropriado era justamente "Breasts" (seios)- era dirigido por uma dama de nome Meema Spadola.
Refletindo sobre as dificuldades de se fazer com que mulheres e meninas de verdade se manifestem sobre o assunto, Spadola confessou que, embora as mulheres mais velhas fossem difíceis de convencer, as meninas pequenas o eram ainda mais.
"Não se pode simplesmente ir a um parque de diversões e começar a perguntar às meninas coisas sobre seus seios", disse Spadola.
Segundo a diretora, as strippers, compreensivelmente, também adotam uma atitude bastante protetora em relação aos próprios seios.
Num clube de striptease, segundo Spadola, uma stripper, dona de seios realmente grandes, disse a um homem que fumava a seu lado: "Não se fuma aqui, senhor. A fumaça faz mal aos seios".
NY Polite Department
Hoje em dia a sigla NYPD deixou de significar "New York Police Department". É usada para indicar "New York Polite Department" -Departamento de Polidez de Nova York.
Ou seja, se você me entende, o departamento de polícia agora tem uma polícia polida.
Um novo esquadrão de policiais à paisana faz testes sigilosos com outros policiais, para ver se tratam com cortesia aos motoristas desorientados, turistas perdidos ou qualquer pessoa que telefona para uma delegacia de polícia da cidade.
Equipada com gravadores ocultos, a polícia da boa educação aborda policiais normais, pedindo ajuda para encontrar objetos perdidos ou a indicação de um lugar seguro para estacionar o carro, e grava as respostas obtidas.
Os resultados talvez impressionem meus leitores de São Paulo.
A imensa maioria dos policiais testados passou na prova. Os testes fazem parte de um programa para elevar o nível da interação da polícia com os cidadãos.
Foi montado um sistema duplo, à base de incentivo e castigo. Os policiais que demonstrarem grande cortesia serão condecorados e receberão prêmios em dinheiro pagos por doações privadas.
Aqueles que forem reprovados terão que passar por treinamento em sensibilidade ou perder dias de suas férias -ou as duas coisas.
Polícia bem paga
Para tio Dave, a base para a criação de um bom policial é a base.
Quando um carioca ou paulista se irrita com o tipo de tratamento e/ou serviço que recebe da polícia local (civil ou militar), deveria refletir sobre os salários pagos aos policiais.
Como qualquer assalariado sabe, a maior parte dos produtos de primeira necessidade custa pelo menos o mesmo no Brasil que em Nova York. É o já famoso "custo Brasil".
Os policiais nova-iorquinos são educados e eficientes. O índice de criminalidade de Nova York está caindo.
Quer saber um segredo importante? A polícia daqui é bem paga.
Um policial médio que trabalha há cinco anos ganha um salário anual de R$ 40 mil, mais R$ 30 mil a título de despesas e benefícios médicos e de aposentadoria.
Em Sampa, seu equivalente muitas vezes é obrigado a pedir gorjetas.
Essa coisa pega
A terrível síndrome de O.J. Simpson está pegando por aqui, como se fosse sarampo.
Ontem à noite saí com uma amiga Jennifer. Fui buscá-la com apenas uns 15 minutos de atraso e, quando cheguei a seu apartamento, ela estava furiosa. Tanto assim que me cobrou US$ 100 por danos punitivos.
Shit happens
Na semana passada, esta coluna não saiu impressa. Digamos simplesmente que aconteceu um probleminha de transmissão, como por exemplo ter acabado o papel do aparelho de fax destinatário.
A ausência de sua leitura semanal predileta realmente estragou seu Carnaval. Sei disso.
Também estragou a diversão de tio Dave, pois foi a segunda vez desde que esta coluna começou que ela deixou de ser publicada.
A primeira vez foi quando eu estava em Viena, sentindo meus pés sendo esmagados por uma senhora brazuca no famoso Baile da Ópera.
O operador de fax austríaco, com a cabeça estourando de champanhe carnavalesca demais, teimou em ler "7" onde estava escrito "2" no telefone destinatário.
Como disse o homem, "shit happens".

Tradução Clara Allain

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