São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Universidade cobra reforma agrária

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A BOLONHA

Nem a distância nem o título de doutor "honoris causa" livraram FHC do tema reforma agrária.
O reitor da Universidade de Bolonha, Fabio Roversi-Monaco, no discurso de saudação ao presidente brasileiro, disse que "o problema dos assim chamados 'sem-terra' continua a ser grave, com características dramáticas e de dificílima solução".
Mas Roversi-Monaco até exagerou na gentileza com o agraciado, ao dizer que, no ano passado, o governo FHC distribuíra 3 milhões de hectares de terras, beneficiando mais de 100 mil famílias.
Pelos próprios dados oficiais brasileiros, esses números, tanto de hectares como de famílias assentadas, correspondem aos dois primeiros anos da gestão FHC e não apenas ao ano passado.
A menção do reitor atendeu a apelo assinado por 68 intelectuais italianos e ontem distribuído aos jornalistas que acompanham a visita presidencial. Lembra os massacres de sem-terra em Eldorado dos Carajás e Corumbiara, cita os 47 mortos em 1996 e lamenta que "menos de 20 dos responsáveis por estes crimes foram processados e condenados".
O documento pede "empenho extraordinário" de FHC para atender às reivindicações dos trabalhadores rurais sem terra e para que "sejam prontamente condenados os que se mancharam com os massacres dos camponeses".
FHC não leu, na aula magna que proferiu, o único trecho em que raspava a questão, ao dizer que "persistem as demandas clássicas que devem ser a preocupação inicial e prioritária da ação política".
A versão oficial é a de que o presidente teve que encurtar o discurso, por falta de tempo.
Os sem-terra não foram o único problema para FHC em Bolonha. Um grupo de professores retardou a data para a entrega do título "honoris causa".
Não discutem os méritos acadêmicos do hoje presidente, mas acham que, quando a honraria foi concedida ele não tivera tempo para demostrar qualidades também como governante.
O reitor, em seu discurso introdutório, deu ênfase aos méritos acadêmicos de FHC, "que, como poucos outros, contribuiu para a compreensão das dinâmicas políticas e econômicas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento".
Mas não deixou de mencionar o significado de uma personalidade estar no governo "no contexto atual de globalização".
Para Roversi-Monaco, a globalização pode representar "uma grande oportunidade para toda a humanidade" mas ao mesmo tempo traz o risco de que "de novo o mundo se divida em vencedores e vencidos".

Texto Anterior: Presidente descarta freio na economia
Próximo Texto: Paz no campo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.