São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 1997 |
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Garoto russo surpreende
ELAINE GUERINI
A trama enfoca como a diferença de idade e de língua pode ser superada em um relacionamento -principalmente quando os envolvidos são obrigados a viver juntos e descobrem que não é tão difícil se adaptar ao cotidiano do outro. O garoto Kolya (interpretado por Andrej Chalimon) é deixado na porta do músico Louka (Zdenek Sverak) depois da fuga de sua mãe para a Alemanha e da morte de sua avó. Como Louka aceitou o casamento arranjado com a professora -a mulher estava interessada na cidadania tcheca para poder deixar a URSS-, ele passou a ser o único responsável pelo menino. E, para não ter mais problemas com as autoridades, ainda precisa fingir que se trata de uma ligação legítima bancando o bom padrasto. No início, os dois sofrem com a nova situação. Louka é egoísta demais para conseguir se preocupar com outra pessoa, e Kolya sente falta da família. O drama dá lugar à comédia quando o músico arrasta o garoto até o trabalho. Detalhe: depois de ter sido despedido da Orquestra Filarmônica de Praga -resultado de perseguição do governo comunista-, Louka ganha a vida tocando em funerais e reforça o orçamento doméstico restaurando lápides de cemitério. Depois da estranheza inicial, os dois vão se aproximando, e a trama começa a envolver de fato o espectador. Tocado pela doçura da criança, o músico sofre uma visível transformação -parece finalmente amadurecer- e passa a ver o mundo de outra forma. Chega a se divertir dando banho no menino, fazendo comida, comprando roupa de criança e não se incomoda em ligar para uma professora de russo no meio da noite e pedir que ela conte uma história infantil pelo telefone para que Kolya consiga dormir. Quando os dois já estão completamente adaptados à situação e até felizes, a mãe do menino volta para buscá-lo -depois da chamada Revolução de Veludo, que tirou os russos do poder na antiga Tcheco-Eslováquia, em 1989. É impossível ignorar o fundo político que permeia a trama principal. O diretor Sverak faz um bom trabalho ao mostrar como as circunstâncias históricas interferem no dia-a-dia de cada um. A grande surpresa do filme é mesmo a atuação do garoto Andrej Chalimon -escolhido entre 200 candidatos. É difícil não se emocionar com algumas de suas cenas -o menino se perde na estação de trem e usa o chuveirinho do banheiro como telefone para simular uma conversa com a avó. Diferentemente do que acontece na maioria dos filmes norte-americanos com atores mirins, a criança aqui age como criança -sem aquela pretensão de surpreender os adultos com frases inteligentes e comportamento precoce demais para a idade. (EG) Filme: Kolya - Uma Lição de Amor Produção: Rep. Tcheca/Fra/Ing, 1996 Direção: Jan Sverak Com: Zdenek Sverak, Andrej Chalimon Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco 1 Texto Anterior: '"Kolya" não é filme político', diz Sverak Próximo Texto: Marcianos de Tim Burton superam o trash Índice |
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