São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 1997
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"Tykho Moon" exibe o apocalipse do futuro

PEDRO CIRNE ALBUQUERQUE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Imaginação e suspense caracterizam "Tykho Moon - Segredos da Eternidade", a estréia do quadrinhista iugoslavo Enki Bilal no mundo do cinema.
Bilal, que dirigiu o filme e colaborou no roteiro, levou para a telona a fantasia quanto ao futuro e as críticas metaforizadas à sociedade, já expressados em seus quadrinhos.
O filme se passa em uma cidade governada a mão de ferro por Macbee, um homem doente e paranóico. Tanatofóbico, ele abusa de autoridade para conquistar a imortalidade.
É aí que entra Tykho Moon. Segundo o médico, Moon tem compatibilidade genética com o governante, e seus órgãos sadios devem ser extraídos para substituírem os do perturbado Macbee.
Mas Moon havia morrido 20 anos antes -pelos menos é o que se pensava. Há pistas de que ele ainda esteja vivo, e, para achá-lo, Macbee coloca toda a polícia da cidade atrás dele.
Entre as buscas a Moon, membros da família Macbee são sucessivamente assassinados, acrescentando suspense a um clima típico de ficção "pós-apocalíptica": ruas sujas e mal cuidadas, lares e lojas destruídos e pessoas taciturnas.
Um futuro em que o povo sofre com um governo por demais poderoso e centralizado, já lido e visto em livros e filmes é um aviso de que, se o poder estiver concentrado, valerá a máxima "o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente".
Tykho Moon não foge a essa regra. As personagens dão prioridade ao que lhes interessa, e nada mais. Bilal, armado de humor negro, dispara para todos os lados. O amor por dinheiro e recompensa de ações com títulos são mostrados com ironia e desconfiança.
As prostitutas andam com um broche que, quando aceso, indica que elas estão disponíveis.
O conceito de "funcionário do mês", estilo McDonald's, é ironizado. Ele mostra três pessoas traindo Tykho Moon -e todas eram os melhores funcionários nos lugares onde trabalhavam.
E, como bom quadrinhista que é, Bilal proporciona ao público a liberdade para imaginar que suas personagens não possuem (as formas de arte foram proibidas pelo governo, proporcionando uma nova "idade das trevas").
Pessoas, objetos e cenários surgem, mas suas histórias não são explicadas.
A própria cidade onde o filme se passa não tem o seu nome revelado. Em um de seus bairros, há uma torre Eiffel, chamuscada e destituída de sua parte superior. O que a teria mutilado? Seria uma Paris pós-guerra? Que desastre teria acontecido? Imagine. Este é um filme de ficção.
(PCA)

Filme: Tykho Moon - Segredos da Eternidade
Produção: França, 1996
Direção: Enki Bilal
Com: Julie Delpy, Richard Bohringer e Jean-Louis Trintignant
Quando: a partir de hoje, no Cinearte 2

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