São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 1997
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Do esconderijo, Salinger lança novela

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DO ESCONDERIJO, SALINGER LANÇA NOVELA

Um dos mais misteriosos e respeitados personagens da literatura norte-americana do século 20, J. D. Salinger, vai ter seu primeiro livro em três décadas publicado este ano. Se as complicadas negociações com seu editor derem certo.
Há dois meses, Roger Lathbury, professor da Universidade George Mason, em Washington, disse em entrevista ao "Washington Business Journal" que até março estaria nas ruas em forma de livro "Hapworth 16, 1924", uma novela que Salinger publicara na revista "The New Yorker" em junho de 1965 e depois nunca mais foi impressa de novo. Será o quinto volume jamais editado por Salinger.
Mas desde que a entrevista de Lathbury apareceu, ele se recusa a falar com jornalistas. A agente do escritor, Phyllis Westberg, que em geral desmente de imediato qualquer notícia sobre novos lançamentos do trabalho de Salinger, desta vez, não diz nem sim nem não, muito pelo contrário. E o próprio continua tão mudo e desaparecido quanto sempre.
Salinger tem demonstrado rigor obsessivo no combate à divulgação não autorizada de seu trabalho. Há poucos meses, ele conseguiu fechar um site da Internet, em que apareciam 169 citações de seu mais famoso romance, "O Apanhador no Campo de Centeio".
Luke Seemann foi o idealizador do site, que recebia centenas de "hits" por dia dos fãs de Salinger. Ele foi advertido pelos advogados do autor de que Salinger considerava o site uma violação de seus direitos autorais. Depois de ter resistido por alguns dias, Seeman preferiu fechar a página a ir à justiça. "Não importa quem vencesse na justiça, Salinger iria perder. Ele ia se tornar o eremita que teve que sair da sua caverna para combater um pobre estudante universitário. Eu não queria isso. O esforço dele era no sentido de proteger a sua obscuridade; o meu, o de fazer um gesto de homenagem a alguém que mudou minha vida", disse.
A mais famosa ação de Salinger em defesa da auto-reclusão aconteceu nos anos 80, quando processou e venceu até na Suprema Corte a poderosa editora Random House, que publicara uma biografia dele que citava algumas cartas escritas por ele a amigos.
Silêncio
No círculo dos cultuadores de Salinger, "Hapsowrth 16, 1924" é um culto à parte.
Eles tentam encontrar no texto alguma chave para explicar por que, depois dele, o romancista parece ter optado pelo silêncio absoluto e definitivo.
A editora dirigida por Lathbury, a Orchises, é pequena e se especializou em poesia de autores inéditos. Além disso, publicou alguns livros de Tolstoy e Auden. Quase todas suas vendas se fazem pelo correio, não em livrarias.
Sua filosofia editorial parece se encaixar com a discreção de Salinger: "Os livros são entuchados nas pessoas por razões erradas. Há uma mentalidade de marketing que nada tem a ver com a experiência literária. Eu quero que as pessoas saibam que meus livros estão disponíveis. Mas não quero forçar ninguém a comprá-los", disse ele em entrevista recente.
Lanthbury, 51, não tomou a iniciativa de divulgar a edição de "Hapworth". Foi um fã de Salinger que viu o nome do livro entre os lançamentos próximos da Orchises no catálogo da livraria on-line Amazon e alertou um amigo jornalista em Washington que, então, procurou o editor.

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