São Paulo, segunda-feira, 17 de fevereiro de 1997
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'Guerra' na Bolsa define preço de Telebrás

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Hoje é dia de "guerra" na Bolsa de Valores de São Paulo. Grandes investidores e especuladores estarão se enfrentando no bilionário vencimento das opções de compra ou de venda das ações da Telebrás.
A principal blue chip do mercado acionário brasileiro estará por trás dos movimentos dos "comprados", que apostaram na alta da Bolsa, e dos "vendidos", que arriscaram a sorte na baixa.
Nos dois últimos dias da semana passada, a batalha foi feia: os negócios na Bovespa, que têm ficado na casa dos R$ 500 milhões por dia, somaram R$ 2,2 bilhões e Telebrás PN oscilou de R$ 98,00 a R$ 101,15 por lote de mil ações.
Aos investidores "mortais" caberá apenas assistir, hoje, à peleja financeira dos gigantes. Mas, a partir de amanhã, o mercado voltará ao normal. Ficará a seguinte questão: Telebrás PN tem ou não fôlego para subir mais, mantendo-se acima da marca psicológica de R$ 100,00?
O recorde foi alcançado na quinta-feira -dia em que o índice Dow Jones, em Nova York, atingiu a marca histórica de 7.000 pontos-, mas não durou. A ação fechou a semana cotada a R$ 98,70 por lote de mil, com valorização invejável de 8,34% no mês e 23,38% no ano, segundo a Economática.
Unanimidade
Para o analista Ricardo Gurman, do Banco Patrimônio, a ação tem pique de sobra para subir mais. Ele mantém a recomendação de compra do papel -mesmo conselho dado pelo Unibanco, pelo Bozano, Simonsen e por sete entre sete analistas brasileiros e estrangeiros consultados neste ano pelo Ibes, serviço internacional de informações financeiras.
"Mesmo a R$ 100,00, Telebrás ainda estaria barata em relação às empresas congêneres na América Latina", diz Gurman.
Ele não trabalha com preço-alvo. O banco de investimentos Morgan Stanley acha que Telebrás PN tem potencial para subir até US$ 115 por lote de mil, segundo relatório enviado a clientes no último dia 23.
Qualquer que seja o limite, vale a pena comparar a Telebrás com as outras opções de empresas do setor na região. A relação P/L (preço/lucro) é mais favorável: para a holding brasileira, o índice é estimado em oito no ano de 97, contra 12 projetado para a média das demais empresas do México, do Chile, da Argentina e do Peru. Quanto menor o P/L, mais rápido é o retorno do investimento por meio de dividendos.
Os analistas de investimento creditam o "desconto" do mercado sobre o preço ideal de Telebrás, quando comparada às semelhantes no continente, às incertezas sobre o processo de privatização dos serviços de telefonia e telecomunicações no país.
A intenção oficial do governo é dividir a estatal em quatro holdings regionais e vendê-las juntamente com a Embratel. Mas ainda paira no ar o risco de a privatização ser feita pelas empresas estaduais, o que esvaziaria a Telebrás, tornando-a uma mera caixa-forte, sem atividade não-financeira.
"As ações da Telebrás refletem muita especulação do mercado sobre questões de ordem política. As teles regionais refletem mais fatores baseados em fundamentos reais e podem ser uma boa opção para quem gosta do setor e quer ficar de fora das oscilações de curto prazo, típicas dos papéis da empresa-mãe", avalia o especialista do Patrimônio.
Abertura
Na questão da privatização, o governo deu uma boa notícia aos investidores estrangeiros durante a semana passada, no Acordo Global das Telecomunicações, negociado na Organização Mundial do Comércio: comprometeu-se a aceitar a participação de 100% no capital de empresas privadas de telefonia celular e por satélite, a partir de 99.

E-mail: papeis@uol.com.br

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