São Paulo, segunda-feira, 17 de fevereiro de 1997
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"Guerra..." sintetiza Hollywood

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Certa vez, George Lucas disse a um amigo que não se sentia um homem de Hollywood, que nem mesmo morava em Hollywood. Ao que o amigo respondeu-lhe mais ou menos o seguinte: "Meu, você não é de Hollywood. Você é Hollywood".
Diálogo admirável, que resume os últimos 25 ou 30 anos do cinema americano. Tempo recortado por "Guerra nas Estrelas", o filme que em 1975 mudou a carreira de Lucas e indicou à indústria norte-americana o caminho para sair da crise (econômica) em que estava atolada desde os anos 50.
É também o filme que selou o destino de Lucas. Do cineasta promissor e sensível de "American Grafitti" (1973) sobrou pouco. George Lucas tornou-se uma espécie de grande cérebro pairando sobre a terra do cinema.
Voltando um pouco no tempo. Lucas formou com Steven Spielberg, Martin Scorsese, Brian De Palma, Francis Coppola e tantos outros a chamada "geração das escolas": jovens diretores que, como norma, aprenderam cinema na faculdade, chegaram à direção trazendo uma formação crítica.
Tinham a pretensão de mudar Hollywood fazendo filmes com idéias. Não sabiam que a mudariam indicando o caminho da grande produção, puxada a efeitos especiais, orçamentos maiúsculos e lançamentos ainda maiores.
Nem todos seguiram esse caminho, está claro. Mas essa foi a direção que se impôs, a hegemônica: a dos filmes dirigidos a uma platéia adolescente, mas com as atrações necessárias a arrastar outros públicos para o cinema.
No mais, um cinema ancorado na tradição clássica, em especial a de seriados tipo "Flash Gordon".
Nada mais justo, portanto, que "Guerra nas Estrelas" se torne a maior bilheteria de todos os tempos. É um ícone. Está para os tempos modernos como "...E o Vento Levou" para o cinema clássico: o filme que resume um período mesmo em suas fraquezas.
Para qualquer ser adulto, "Guerra nas Estrelas" às vezes é irritante. O argumento, centrado numa disputa espacial entre bem e mal, não é novo, nem audacioso.
Os efeitos especiais, a direção aplicada e certos seres introduzidos na trama (como os simpáticos robôs) compensam essa impressão. Mas é preciso admitir que "E.T.", ou mesmo "O Retorno de Jedi" são superiores a "Guerra nas Estrelas", ora em poesia, ora em profundidade, ora em inspiração.

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