São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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Saídas para o Bamerindus

Uma nova alternativa está sendo examinada para o Bamerindus. Fica no meio caminho entre a hipótese mais drástica de uma intervenção do tipo da usada no Banco Nacional e a proposta de vender o banco em três ou quatro anos, depois de saneado por novos administradores.
Seria a venda imediata do controle do Bamerindus (ou de uma participação), mas mantendo a idéia de um período de transição, para sanear o banco, com pleno apoio do Banco Central.
Existem vantagens e desvantagens em cada uma das alternativas e implicações políticas diferentes. Todas as hipóteses envolvem muitos bilhões de reais.
Numa intervenção do tipo do Banco Nacional, em que o BC fica com a parte "ruim" e vende os ativos bons a terceiros, existe um cálculo de que poderia exigir mais de R$ 12 bilhões em desembolsos do Proer. O prejuízo final não seria necessariamente este, mas o desembolso inicial sim.
Seria a pior alternativa para o controlador do Bamerindus, o senador José Andrade Vieira: suas ações do Bamerindus virariam pó e seus bens ficariam indisponíveis. Seria a melhor alternativa para os bancos interessados no Bamerindus: comprariam apenas os ativos bons, por um preço mais baixo. Exatamente por essa razão, poderia ser a alternativa mais custosa para o contribuinte.
O próprio senador montou uma proposta alternativa, com o Banco Graphus e o União de Bancos Suíços (UBS). É uma proposta com três passos. O BC criaria uma "rede de segurança" de liquidez para o Bamerindus, no valor de US$ 6 bilhões. O custo seria o das taxas internacionais e a origem poderia ser as reservas cambiais. O BC faria a operação diretamente ou usando terceiros.
Ao mesmo tempo, novos administradores assumiriam o banco, não como acionistas mas como operadores. Alguns ativos do grupo seriam vendidos. As ações que controlam o banco, da Fundação Bamerindus (controlada por Vieira) ficariam sob a custódia do UBS. Numa terceira etapa, num período estimado de dois anos e meio a quatro anos, o banco, saneado, seria vendido a terceiros.
Os US$ 6 bilhões não precisariam vir do Proer e seriam utilizados conforme a necessidade. O BC teria um custo estimado, na pior hipótese, em US$ 1,6 bilhão. Os controladores atuais se comprometeriam, contratualmente, a equilibrar o banco e repassar para o BC o lucro gerado pela valorização das ações.
Um problema é como responsabilizar os administradores da transição por problemas no banco. Uma solução poderia ser a aceitação de certas responsabilidades, mas só depois de feita uma avaliação profunda da situação do banco (uma "due dilligence").
O senador não teria os bens indisponíveis e não perderia todo o valor dos seus negócios. Em compensação, o Bamerindus seria valorizado na venda, reduzindo o prejuízo do governo. Politicamente, contudo, como as ações continuariam nas mãos do senador, a operação poderia ser acusada de ser um resgate, com dinheiro público, dos controladores.
O BC está muito sensível a esse ponto. Até agora, o Proer foi usado para beneficiar depositantes, não os controladores dos bancos falidos. Uma fonte próxima ao caso garante que, nesta proposta, os lucros com a recuperação do banco ficarão com o BC. Os controladores, de todo modo, não perderiam tudo. A proposta intermediária daria uma formato politicamente mais palatável, ao transferir a propriedade (ou parte dela) para terceiros de imediato, ficando o BC como apoiador durante uma fase de transição. Neste caso, contudo, obviamente as ações do Bamerindus seriam vendidas por um valor menor do que se o banco estivesse saneado. O problema do Bamerindus não é apenas de liquidez. O banco exige uma capitalização. Existem bancos, daqui e do exterior, interessados no Bamerindus, conforme o negócio que for proposto.
O Hongkong and Shanghai Banking Corp., que já tem 6% do Bamerindus, teria interesse no banco na hipótese da venda apenas da parte boa, com uso do Proer. Outro candidato potencial é o BBA, que não conseguiu fechar negócio com o BCN.
Há ansiedade, no BC, para resolver a novela, mas outros atores identificam ruídos políticos recentes. Como todos se convenceram que o BC não deixará o banco fechar, o Bamerindus continua operando e até ganhando depósitos.

E-mail CelPinto@uol.com.br

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