São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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CD traz quarteto de cordas de Carlos Gomes

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos Gomes (1836-1896) é mais conhecido por suas nove óperas. Incursionou pouquíssimo pela música de câmara. É o autor de um quarteto de cordas, o "Burrico de Pau" (1854).
Interpretado com humor e lirismo pelo Quarteto de Brasília, a peça é o prato de resistência do sétimo CD lançado agora pela Alcoa, em série iniciada em 1989, dedicada a compositores nacionais.
O Instituto Cultural e Filantrópico Alcoa não comercializa suas gravações. Elas são distribuídas a conservatórios e discotecas públicas. É o único senão de um mecenato cultural que manteve continuidade, mesmo durante o vácuo criado pelo fim da Lei Sarney.
O CD também traz modinhas, duetos e árias que a música urbana do século 19 concebia como produção e consumo domésticos. São hoje conhecidas 46 dessas peças vocais e acompanhamento de piano do compositor campineiro.
Mas intérpretes como o tenor Fernando Portari e a soprano Maúde Salazar ficam presos às condições em que a gravação ocorreu -espetáculo em auditório sem a amplificação do som.
Com isso, o caráter intimista das canções ganham uma pomposidade quase constrangedora. Uma peça como "Quem Sabe?" ("Tão longe, de mim distante,/ Onde irá meu pensamento?...") perde um pouco de sua visceral delicadeza.
No CD anterior, a Alcoa trouxe o pianista Marco Antônio Almeida com peças de Ernesto Nazareth (1863-1934). O mesmo compositor, também recentemente gravado por Marcelo Bratke, aparece em contraste com a leitura excessivamente adocicada, feita nos anos 70 por Arthur Moreira Lima.
A coleção surgiu há pouco mais de sete anos, com duas preciosidades históricas de Cláudio Santoro (1919-1989): "Sinfonia nº 5", interpretada em 57 pela Orquestra Sinfônica de Leningrado, e a "Sinfonia nº 7", com a Orquestra da Rádio de Berlim, em 64, ambas sob regência do compositor.
O pianista Miguel Proença gravou Alberto Nepomuceno. No repertório brasileiro de câmara, Yara Bernette (piano), Ayrton Pinto (violino) e Antônio del Claro (violoncelo) gravaram os trios números 1 e 3 de Heitor Villa-Lobos.
Por sua vez, o Quarteto Bessler Reis fez um CD com sete peças de Radamés Gnatalli, sobretudo seu "Quarteto nº 3", uma preciosidade arquitetura musical.
Por fim, em 1993, Davi Machado regeu peças de Francisco Mignone com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Entre elas, o "Maracatu do Chico Rei" (1933), aliás também gravado no ano passado em Londrina (PR), sob a direção de Norton Morozowicz, e que tampouco circula nos catálogos comerciais das gravadoras.

Gravação: Carlos Gomes
Edição: Coleção Alcoa de Música Erudita Brasileira
Intérpretes: Quarteto de Brasília; Maúde Salazar e Laura de Souza (sopranos), Fernando Portari (tenor), Inácio de Nonno (barítono), Samuel Kardos, Larry Fountain e Marcelo Verzoni (pianos)

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