São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 1997
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Dor de consciência?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O painel do leitor da revista britânica "The Economist" publica esta semana quatro cartas comentando artigo do número anterior sobre declarações do megaespeculador (ou investidor, se se preferir) George Soros.
Para quem não se lembra ou não leu, Soros criticou o capitalismo, a ponto de equipará-lo ao comunismo, por terem as mesmas raízes culturais e serem ambos danosos à democracia.
De capitalismo, poucos entendem mais do que Soros, que ganha dinheiro a rodo usando o que ele chama de "falhas" do sistema.
O curioso é que todas as quatro cartas são a favor das críticas de Soros e contra o texto da revista que as ironizava. "The Economist" é uma espécie de breviário do livre mercado. É claro que seus leitores não precisam ser ultraliberais de carteirinha. Basta que queiram uma boa informação e saibam que a revista não é exatamente neutra.
Mas era razoável esperar que o público da revista, que não é composto dos excluídos das benesses do capitalismo, muito ao contrário, tivesse uma reação mista. Uma crítica aqui, um elogio ali.
Não. Todas as cartas publicadas vão na mesma direção. Uma delas, vinda de Washington (EUA), lembra que Adam Smith, o pai teórico do liberalismo, já havia escrito (em "Teoria dos Sentimentos Morais") que o livre mercado precisa de um suporte ético para bem funcionar.
Se existiu, em algum momento, tal suporte desapareceu com a queda do adversário ideológico do capitalismo, o comunismo. O jogo hoje é darwinismo puro. O que faz outro leitor da revista, este de Houston (Texas, EUA), se perguntar se o capitalismo, como predizia, de resto, o marxismo, não está cavando sua própria sepultura por excessiva "apropriação de mais-valia".
É curioso que esse, digamos, debate se trave nas páginas de "The Economist". No Brasil, silêncio.

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