São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Silva pede que prefeitura reveja função dos fiscais

DA REPORTAGEM LOCAL

O motorista Cícero Barbosa da Silva pediu ontem que a Prefeitura de São Paulo reveja a função de multar dada aos marronzinhos. Segundo ele, a atitude agressiva do fiscal Vagner de Jesus Freitas foi o que causou sua reação.
"O marronzinho provoca o crime e a miséria. Gostaria que o prefeito acabasse com isso", afirmou.
Em meio às perguntas que faziam os repórteres, em uma sala do 34º DP, Silva disse duas vezes que ficou nervoso porque o marronzinho o ofendeu.
"Ele já chegou dizendo que eu era muito folgado. Eu falei a ele que nunca tinha sido multado, que passava por ali todos os dias e que trabalhava no Palácio (dos Bandeirantes). Aí ele disse que o pessoal do Palácio era muito folgado e que ia me multar por falta de cinto também."
O motorista disse que anda armado porque já foi "atacado por bandidos na rua".
"Trabalho 20 horas por dia, tenho vários empregos para sobreviver, estava cansado e com sono e vem um cara me dizer desaforos."
Apesar disso, Silva disse estar arrependido do crime. "Estou arrependido, porque a gente não pode fazer essas coisas. Isso está errado."
Silva tem dois empregos. No momento do crime, ele tinha acabado de deixar o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, onde é motorista da Secretaria de Governo e Gestões Estratégicas.
Durante o dia, presta serviços como segurança para uma empresa alemã cujo nome não foi divulgado. Apesar da profissão, Silva não tinha porte de arma e tinha comprado de uma terceira pessoa o revólver com que atirou no fiscal.
Família
Seu irmão, José Barbosa da Silva, diz que a família nunca temeu pela segurança do motorista pelo fato de ele andar armado. "Ele é calmo. Em todas as empresas que trabalha todo mundo diz isso."
Para José, seu irmão estaria nervoso por problemas dentro de casa, com a família.
Silva é alagoano, de Arapiraca, e pai de três filhos. O mais novo, Leandro, de 15 anos, joga futebol pelo time dos Pequeninos do Jóquei e tinha viagem marcada para a Europa nas próximas semanas, onde disputaria um torneio internacional.
O filho do meio, de 25 anos, começou a ter problemas mentais desde os 17 e não trabalha ou estuda. "Quando o rapaz tem crises, ele fica junto, diz para o filho se acalmar", diz José, irmão do acusado.
O filho mais velho, Claudenor, foi quem recebeu os policiais na casa do pai. Com lágrimas nos olhos, disse ontem que o pai "nunca tinha feito isso".
José diz que o irmão passou a andar armado depois que foi ameaçado de morte por um vizinho, com quem teve uma briga.
"Hoje, o cara não carrega uma arma no carro por causa do trânsito, mas por causa da bandidagem", disse o irmão, que não carrega arma consigo.

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