São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 1997
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Roqueiros da paz

GILBERTO DIMENSTEIN

São Paulo vai experimentar inusitada combinação para diminuir a violência -invadir as madrugadas da conflagrada periferia da cidade com grupos de rock acompanhados de times de futebol.
Depois dos shows, executados pelos mais famosos conjuntos de rock brasileiros, as platéias serão convidadas a assistir torneios de futebol de salão, com os times dos bairros.
A experiência é patrocinada pela Rádio 89, principal estação de rock de São Paulo, com assessoria do recém-lançado no Brasil escritório da Organização das Nações Unidas para Prevenção ao Crime (Ilanud).
Funciona?
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Combinar rock e futebol é uma versão melhorada do bem-sucedido "basquete da meia-noite" em cidades americanas, entre elas Nova York.
Como os jovens disputam torneios exatamente no horário em que costumam brigar nas ruas, a taxa de violência cai em vários bairros; sobe quando o campeonato é suspenso.
Estatísticas brasileiras e americanas revelam que os homicídios são, em grande parte, cometidos por pessoas que se conhecem. Bebem, discutem no bar ou em casa, acabam se matando.
Rock e futebol juntos são uma charmosa alternativa de lazer, deixando os olhos ocupados no esporte e na música. "O projeto diminuiu as situações de risco de violência", afirma o professor de direitos humanos Oscar Vieira, chefe da Ilanud; até no ano passado, Oscar vivia em Nova York, onde acompanhava o esforço para reduzir a criminalidade.
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Uma das razões para o sucesso de Nova York na luta contra o crime é a melhoria da polícia. As delegacias ganharam autonomia jamais tida, são responsáveis integralmente por seu bairro e cobradas a partir dos números que produzem.
Um dos erros do debate no Brasil é valorizar essencialmente a força. Embora correta, a municipalização da polícia e o combate aos pequenos delitos não são suficientes.
Nova York ensina que a polícia é apenas um dos ingredientes de um projeto de pacificação. Sem esse ingrediente não se chega a lugar nenhum; mas só com ele não se vai muito longe. Devem ser agregados projetos exatamente como o do rock e futebol da madrugada.
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Defensora da bandeira (correta, diga-se) da municipalização da polícia, a Prefeitura de São Paulo conseguiria, nesse momento, mais resultados se apoiar mesmo o secretário de Esportes, o jogador de basquete Oscar Schmidt. São ótimas suas idéias de centros de esportes abertos 24 horas e de atrair meninos para campeonatos de futebol.
Uma das boas idéias em Nova York foi deixar as escolas sempre funcionando com algum tipo de atividade, mesmo à noite, nos finais de semana e nas férias, para evitar que os jovens ficassem na rua.
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PS - Selecionei textos, traduzidos para o português, sobre como funciona a polícia de Nova York. Estão disponíveis por e-mail.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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