São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 1997
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Promotor quer ir até o fim contra Zé Celso

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A ARARAQUARA

A novela da acusação contra o diretor Zé Celso Martinez Corrêa parece estar longe de acabar.
Anteontem, em Araraquara, o juiz José Maurício Garcia Filho rejeitou a denúncia. Horas depois, o promotor Nelson Barboza Filho recorreu da decisão. "Pretendo ir até o fim", afirmou o promotor (leia texto ao lado).
O caso agora deverá ser encaminhado ao Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo.
Zé Celso e os atores Pascoal da Conceição, Marcelo Drummond, Cibele Forjaz, Alleyona Cavali, Celso Sim e Denise Assunção, acusados pelo padre Oswaldo Baldan, de Araraquara, de vilipendiar (ofender) ritos e objetos religiosos (crime previsto no artigo 208 do Código Penal), participaram de uma audiência anteontem no Fórum de Araraquara.
Eles estão sendo acusados de vilipêndio por causa da montagem de "Mistérios Gozosos", de Oswald de Andrade, que apresentaram em Araraquara em junho de 1995. Em cena da peça, o ator Marcelo Drummond, no papel de Jesus das Comidas, oferece seu corpo e sangue na forma de banana e champanhe.
Com base na solicitação do padre, o Ministério Público moveu uma ação penal contra o diretor e os atores. Anteontem, o juiz José Maurício Garcia Filho, de Araraquara, rejeitou a denúncia do Ministério Público.
O promotor Nelson Barboza Filho recorreu da decisão. Ele deverá encaminhar até a próxima semana as razões para a retomada do caso.
O promotor terá de argumentar por que considera que houve crime. Após a apresentação das razões, a defesa terá seu prazo para a apresentação das contra-razões.
Com as razões do Ministério Público e da defesa reunidas, o caso seria encaminhado ao Tribunal de Alçada Criminal, em São Paulo.
O Tribunal remete à Procuradoria Geral de Justiça, que dá parecer contrário ou a favor do Ministério Público. Se o parecer for favorável, o caso será avaliado por uma câmara criminal. Um grupo de três juízes julga o caso, ouve o recorrente e a defesa.
Zé Celso e os atores não serão mais ouvidos. A defesa se dará com as provas reunidas pelo advogado do diretor, Fernando Castelo Branco. Após essa instância, se eles forem processados, caberá novo recurso, e o caso será encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça.
"Acho pouco provável que isso aconteça, porque a defesa está fortalecida. A decisão do juiz de Araraquara foi muito bem fundamentada e estão anexadas ao processo declarações de peritos no assunto", afirmou Castelo Branco.
Entre as provas da defesa estão cartas do diretor de redação da Folha, Otavio Frias Filho, do ombudsman da Folha Mario Vitor Santos, dos críticos de teatro Alberto Guzik e Sábato Magaldi, do escritor Ignacio de Loyola e do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Todos assistiram ao espetáculo "Mistérios Gozosos"
Acusado
Zé Celso afirmou estar tranquilo em relação ao processo. "O que quero agora é apresentar 'Bacantes' em um lugar magnífico de Araraquara, com uma concha acústica. Espero que esse processo abra o meu caminho para Araraquara e quebre esse clima de faroeste que está acontecendo na cidade."
Já o ator Pascoal da Conceição disse que a ação movida contra o diretor Zé Celso e outros atores do grupo Uzyna Uzona é comparável a uma tortura.
"É algo que atormenta, que espezinha. Agora compreendo a preocupação de Paulo Francis com a ação que a Petrobrás movia contra ele", disse.
O único ponto positivo nessa história, segundo o ator, é que o trabalho do grupo está sendo repercutido, debatido.
Mas o ator não esconde a preocupação. "Acho um absurdo que a Justiça brasileira esteja trabalhando a serviço da visão de um promotor que quer condenar um grupo de teatro por seu trabalho", completou.

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