São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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Em nome da fama, modelos novatas trabalham até de graça

Para aparecer na 'vitrine', 'new faces' aceitam não receber

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Lado a lado, vestindo a mesma roupa da grife Santa Ephigênia, usando a mesma maquiagem berrante e exibindo o mesmo penteado exótico, as modelos Cássia Ávila e Marizandra Banderó chegam a ser parecidas. Mas não são.
Cássia Ávila é uma modelo conhecida e, por isso, recebeu no mínimo R$ 800 para passar quatro vezes na passarela vestindo Santa Ephigênia. Marizandra Banderó é uma "new face", uma novata, e integra o grupo de modelos que gastou dinheiro do próprio bolso para participar do mesmo desfile.
Pelo menos dez novatas desfilaram de graça nos três dias do Phytoervas. O status dessas modelos era de "convidadas", diferente das que receberam cachês, classificadas como A (R$ 800), B (R$ 650) ou C (R$ 450), de acordo com a fama, o sucesso e a experiência.
As novatas vêem um evento do porte do Phytoervas como uma espécie de vitrine, no qual poderão ser "descobertas". Essa possibilidade leva muitas a encararem positivamente o trabalho gratuito.
"Não recebo nada, mas é um privilégio desfilar. Como há muitos estilistas famosos aqui, se algum gostar de mim pode ser bom para a minha carreira", diz Marizandra, que anteontem fez 16 anos.
Algumas das modelos "convidadas" foram informadas de que não receberiam cachê, mas ganhariam uma peça de roupa ao final do desfile. "Ganhar essa roupa aqui? Com as mangas penduradas? Não quero não", dizia a novata Ana Lúcia Medeiros, 16, que desfilou para a grife Haryela Zacharias.
Como o Phytoervas é um evento destinado a novos estilistas, sem muitos recursos, a própria empresa produtora pagou os cachês dos modelos. Cada estilista teve direito a 15 modelos pagos -alguns classe A, vários classe B e muitos C.
Estilistas que já haviam participado de outras versões do evento, como Ronaldo Fraga, foram privilegiados na hora de escolher. Fraga pôde usar cinco modelos A.
Segundo a ex-modelo Betty Prado, coordenadora do evento, a Phytoervas gastou cerca de R$ 80 mil com cachês, parte de um investimento total de R$ 600 mil.
Betty acha normal haver modelos desfilando de graça. "Em todos os países desfila-se de graça. No início da carreira você tem que abrir mão de algumas coisas", diz.
Nem todo mundo concorda. Ouça a modelo Alê Marques, hoje uma A: "Fiz muito desfile de graça, mas não acho certo. Isso desvaloriza a profissão", diz.

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