São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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O salvamento da Mesbla

LUÍS NASSIF

A operação de salvamento da Mesbla -coordenada pelo banco Pactual- é um marco de racionalidade na história do capitalismo brasileiro. Se adotada há mais tempo, certamente teria evitado o enorme desperdício, para o país, de fim de impérios, como o grupo Matarazzo, diz o presidente do banco, Luiz Cézar Fernandes.
A lógica é simples: se todos os credores quisessem receber seu dinheiro, a Mesbla quebraria e o pouco que restasse iria para o pagamento de tributos. Por isso, é preferível receber apenas uma parte, na forma de participação acionária.
Inicialmente, a peso de ouro, tirou da Lojas Americanas o executivo José Paulo Amaral, responsável pela ampliação da rede de 15 para 150 lojas. Amaral veio com luvas milionárias e direito a 50% dos resultados da operação.
Depois deu início à primeira etapa do salvamento, que foi negociar com os credores.
Pelas projeções do Pactual, completado o processo de reestruturação, na pior das hipóteses as ações estariam valendo 40% dos valores convertidos. Se as ações da Mesbla atingissem o pico histórico, poderiam chegar a 70%. Mas não se descartava a possibilidade de o mercado valorizar mais que o pico anterior.
Todas as ações serão ordinárias e não haverá bloco de controle da companhia. O fato de todas as ações serem ordinárias afasta a possibilidade de os pequenos acionistas serem prejudicados, em caso de venda do controle da companhia para algum grupo.
O mandato do Pactual é por três anos, findo os quais a assembléia dos acionistas optará por renovar ou não.
Havia mais de 1.200 credores. Cerca de 85% dos créditos foram convertidos. Restou um grande credor -o Latinvest, com US$ 10 milhões- mais pequenos credores, que vão ter que aguardar anos na Justiça para receber seus créditos.
A família De Botton, antiga controladora, teve seu capital diluído. Passou a deter apenas 0,7% do capital da Mesbla.
Próximas etapas
A primeira fase do ajuste consistiu em evitar a falência. A segunda fase -num prazo entre um e dois meses-, em negociar as dívidas fiscais, hoje estimadas em US$ 200 milhões.
Para tanto, conta-se com uma lei que reza que, em caso de mudança de controle, multas e juros de mora são perdoados. Além disso, o banco espera convencer governos estaduais a utilizar incentivos fiscais para abatimento da dívida, além de esticar o prazo de pagamento para 96 meses.
A terceira etapa será o rearranjo da empresa, para cumprir a meta de elevar seu faturamento dos US$ 300 milhões do ano passado para a cifra mágica de US$ 2 bilhões.
Dinossauros
Embora no meio de uma revolução no país, Fernandes considera que os bancos de investimento irão se tornar dinossauros. Tiveram papel durante determinado tempo, de reorganização dos mercados. À medida que os mercados se reorganizaram, os grandes bancos de varejo entraram na área e passaram a adquirir as melhores instituições. Restarão poucos independentes.
O segredo do negócio é a distribuição, diz ele. Com exceção da Merril Lynch e da Smith Barney, poucos bancos lograram montar esse modelo.
No caso brasileiro, Fernandes estima um prazo de cinco anos para os atuais bancos de negócios se reciclarem. Ou irão adquirir bancos de varejo, ou serão adquiridos pelos atuais.
Saneamento
A série sobre os municípios e o saneamento prosseguirá em breve.

Email: lnassif@uol.com.br

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