São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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É confortável e seguro estar em família

CHRISTIAN FITTIPALDI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estou ansioso para começar a temporada de 97. Vai ser o meu segundo ano com a Newman-Hass e, já no ano passado, senti a diferença que faz estar em uma equipe de ponta.
Na penúltima corrida ainda estava disputando o título e terminei o campeonato em 5º.
Este ano vamos correr com um carro novo, construído especialmente para nosso time.
Acho que vai ser um sucesso. Ainda nos primeiros testes o carro demonstrou ser muito rápido. Tudo é novo e temos muito para extrair dele.
Trabalhei muito para tentar reunir os ingredientes certos e agora só falta fazer tudo funcionar junto. Como a receita é minha, tenho muita confiança e isto já é uma vantagem.
Num plano mais pessoal, acho que estou numa idade ótima, jovem e em forma, mas ao mesmo tempo já com bastante experiência e maduro. Acho que em qualquer atividade o ideal seria ter a experiência dos mais velhos e a energia dos jovens.
Isto nunca acontece, mas por alguns anos você fica naquele meio termo que é o melhor possível. Espero poder desfrutá-los inserido em uma estrutura profissional, como na minha equipe.
Quando as coisas vão bem, o tempo passa de uma forma especial e meu objetivo é correr por muito tempo ainda, enquanto eu for competitivo. Como meu tio Emerson.
Meu tio corre há mais de 30 anos, e a carreira dele tem sido tão brilhante que sempre cria as situações certas para ele poder continuar competitivo.
Se você descontar o ano passado, pior na história recente da Penske, o Emmo sempre estava disputando o campeonato e ganhando corridas.
Por causa do acidente que ele sofreu em Michigan no ano passado, não vamos ter o Emerson, pelo menos nas fases iniciais deste ano. Espero, porém, não correr como o único Fittipaldi nas pistas.
Todos sabem o grande piloto que meu tio é, mas para mim a coisa tem um significado especial. É incrível como em todos esses anos ele nunca deixou de ser meu tio, com quem convivo muito mais do que com o piloto supercampeão. Até para falar dele não consigo usar nenhuma outra forma. Tentei, neste texto, chamá-lo de Emerson, Emmo, mas para mim ele sempre foi e sempre será meu tio. É lógico que sempre o admirei, como admirava meu pai. Acompanhei seus feitos, vibrei com suas conquistas.
Mas aquele que tenho lá dentro do peito é o meu tio. Meu tio que me levava para voar de ultraleve e entendia que eu nunca cansava de jogar "pára-quedistas" lá de cima. As vítimas eram uns bonecos chamados Falcon, lembram?
A brincadeira às vezes acabavam mal e meu "pára-quedista" descia em queda livre até se arrebentar no chão. Mas logo depois tudo estava certo para mais um salto.
Meu tio, como meu pai, tem personalidade diferente da minha. Mas, sem dúvida, a influência de ambos me marcou.
Os fãs, por enquanto, vão ter que sentir saudades do campeão, mas espero que meu tio continue ativo no automobilismo. Afinal, como eu estava dizendo antes, a sensação de conforto e confiança é essencial para o sucesso. E nada é mais confortável e seguro do que estar em família.

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