São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997 |
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Produção sobre 'gueto de Xangai' faz sucesso
PAULA DIEHL
Nos anos 30, dominada pelo Japão e repartida em setores, em estrutura colonial, Xangai abrigava franceses, ingleses, alemães e japoneses entre os próprios chineses e era a última alternativa para os que fugiam do nazismo. A partir de 1937, com a radicalização e expansão do anti-semitismo nazista, os imigrantes judeus passam a chegar cada vez em maior número a Xangai. Com o avanço da guerra, os japoneses isolam os judeus em guetos onde chineses pobres já haviam sido confinados. O filme de Ottinger retrata o trajeto da Europa à Ásia de oito pessoas durante os anos 30. Ela mescla entrevistas e relatos com imagens poéticas da Xangai atual. Leia a seguir trechos de entrevista com Geofrey Heller, professor da Universidade da Califórnia e um dos protagonistas do filme. * Folha - Como o senhor chegou a Xangai? Geofrey Heller - A viagem não foi voluntária. Nós éramos perseguidos pelos nazistas. Para o meu pai isso foi muito duro, pois ele havia servido no Exército alemão na Primeira Guerra Mundial e acreditava que não seria perseguido. Eu e meu irmão chegamos em 1939 à Inglaterra. Moramos lá com alguns amigos até a guerra atingir o território britânico. Meus pais permaneceram na Alemanha, tentando vender seus bens. Eles ficaram muito tempo na Alemanha, e quase foi tarde demais. Folha - O senhor era religioso? Heller - Como muitos outros na época, o único contato com religião que eu tive foi na escola, na aula de religião, que era protestante. As gerações mais antigas da minha família eram religiosas. Mas a religiosidade não faz muita diferença. Pode-se sentir ligado ao destino judaico sem ser religioso. Folha - Onde o senhor morou em Xangai? Heller - Primeiro nós moramos no setor francês. Em 1943 os japoneses designaram uma área para os exilados que, como mostra o filme, era um bairro de infra-estrutura muito primitiva. Mas os chineses que já moravam lá não nos hostilizaram. Eu sou muito grato por eles nos aceitarem em um bairro onde já havia muitas pessoas, e tão pobres. Folha - Como era a vida no gueto? Heller - Na guerra não havia muitas alegrias. Tudo era muito duro e perigoso, o calor, a fome. Folha - Como eram os judeus de outros países que já viviam no gueto? Heller - É interessante como esses imigrantes dos diversos países levavam consigo seus preconceitos. É engraçado como as pessoas, mesmo estando a tantas milhas de distância, continuam a reproduzir as mesmas relações da terra natal. Mas não aconteceu nenhum encontro de culturas. A sobrevivência era o mais importante. Folha - Depois de tanto fugir, o senhor ainda carrega alguma coisa da Alemanha? Heller - Na verdade resta muita coisa. Minhas raízes na Alemanha são muito profundas. Folha - O senhor acha que os neonazistas podem criar uma situação como a da década de 30? Heller - Isso me parece, visto do exterior, um grupo isolado de extremistas sem uma maior ressonância. Espero ter razão. Texto Anterior: Filme é bem mais aplicado do que talentoso Próximo Texto: Grandes marcas entram em cena com MorumbiFashion Índice |
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