São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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Dante cria seu inferno

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em 1978, "Piranha" (TNT, 1h) foi fartamente desprezado, como imitação barata de "Tubarão".
Barata, sim. Joe Dante fez um filmeco, com recursos visivelmente parcos. Imitação, nem tanto. "Piranha" retoma sem pudor o argumento de "Tubarão" (ataque de monstros aquáticos contra homens e, sobretudo, crianças), mas é só.
O filme introduz um viés político violento: se existe um desequilíbrio ecológico determinando a catástrofe, é em função de experiências militares, seus segredos e decorrências.
E, mesmo se a população morre por conta do problema, os militares estão preocupados em sustentar a sua lógica (e, com ela, seu poder). Quem é a principal representante desse pensamento? Barbara Steele, a maior vampira do cinema.
Com uma tacada, Dante introduz seu inferno: o mundo é dos mortos-vivos, de um militarismo para quem a única perspectiva existencial é a morte.
É muito mais por desenvolver esse tipo de pensamento -tão dissidente, sobretudo nos EUA- e muito menos por eventuais semelhanças com "Tubarão" (que não são estilísticas) que "Piranha" foi visto com tanta má vontade. É isso também que faz dele um filme vivo.
(IA)

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