São Paulo, sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
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Cinzas de Deng serão jogadas no mar

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

O corpo de Deng Xiaoping será cremado; as cinzas, jogadas ao mar e as cerimônias em sua homenagem serão "simples e sem pompa", de acordo com o desejo do líder comunista chinês que morreu anteontem.
Uma cerimônia no Grande Salão do Povo, na próxima terça-feira, vai reunir pelo menos 10 mil pessoas, mas não haverá convidados estrangeiros.
Apesar de não haver sinais de turbulências, as Forças Armadas chinesas entraram em estado de alerta máximo após a morte de Deng. O governo chinês busca se prevenir pois teme manifestações. Não colocou tropas nas ruas.
Fora dos quartéis, o governo se esforçou para manter uma atmosfera de tranquilidade. Não pediu, por exemplo, o cancelamento das visitas diplomáticas previstas para a próxima semana, como a do presidente português, Jorge Sampaio, e a da secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright.
Mas, segundo a embaixada portuguesa, não serão realizadas as tradicionais cerimônias de recepção, que incluem banda de música.
Responsável pelas reformas pró-capitalismo iniciadas em 1978 e que transformam a China comunista numa das economias mais dinâmicas do planeta, Deng Xiaoping, 92, morreu às 21h08 de quarta-feira. A morte foi provocada por "consequências de mal de Parkinson e infecção pulmonar".
Deng não ocupava cargos oficiais desde 1990. Mas mantinha influência como "patriarca" das mudanças e padrinho político de Jiang Zemin, seu sucessor e presidente da China.
Doação de órgãos
O governo chinês decretou seis dias de luto oficial. O Comitê para o Funeral, formado por 459 pessoas e chefiado pelo presidente Jiang Zemin, anunciou ontem que a cerimônia na Assembléia Geral do Povo, onde ocorrem as reuniões do Parlamento, será transmitida pela TV. Jornalistas estrangeiros não terão acesso ao prédio.
As córneas de Deng serão doadas a um banco de olhos e "partes de seu corpo serão usadas para pesquisa médica", segundo uma carta enviada pela família do líder morto ao presidente Jiang Zemin.
"Como um materialista convicto, o camarada Xiaoping sempre teve uma visão filosófica da vida e da morte", diz a carta assinada pela viúva Zhuo Lin e os cinco filhos.
"O camarada Xiaoping sempre acreditou em funerais simples."
A opção de Deng contrasta com o culto à personalidade promovido por Mao Tse-tung, o líder da revolução que trouxe os comunistas ao poder em 1949.
Durante seus 27 anos no poder, Mao era reverenciado quase como uma divindade. Seu corpo embalsamado repousa atualmente no mausoléu localizado na praça Tiananmen, centro de Pequim.
A praça também foi palco do movimento pró-democracia de 1989, reprimido violentamente sob o comando de Deng Xiaoping.
Cerimônia
A biografia oficial do dirigente chinês divulgada ontem elogiava o envio de tropas a Tiananmen (praça da Paz Celestial) para "esmagar contra-revolucionários".
O episódio de 1989 deixou o governo extremamente sensível diante das ameaças de manifestações pró-democracia. A entrada das Forças Armadas em estado de alerta máximo, apesar de não haver sinais de turbulência, evidencia a preocupação.
O governo também lembra que a morte de líderes chineses serviu para deslanchar manifestações reprimidas pela polícia, como em 1976, quando morreu o primeiro-ministro Zhou Enlai.
O movimento pró-democracia de Tiananmen, em 1989, começou dias depois da morte de Hu Yaobang, secretário-geral do Partido Comunista derrubado em 1987 e considerado um "liberal".
A cerimônia de terça-feira vai reunir principalmente membros do Partido Comunista chinês, do governo e militares.
O início da homenagem, previsto para 10h (23h de segunda-feira em Brasília), será marcado pelo soar, durante três minutos, dos apitos de trens, navios e fábricas espalhadas pelo país.

Reunirá
10 mil pessoas a cerimônia em homenagem a Deng Xiaoping na terça-feira

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